terça-feira, 19 de julho de 2005

PÚBLICOS DE CIÊNCIA

publico1272005.jpgNo Público do passado dia 12, a estória que ocupava as páginas 22 e 23 dizia respeito a públicos de ciência e ao resultado de recente inquérito aos europeus sobre a sua relação com a ciência e tecnologia. Apoio-me numa das peças escritas por Clara Barata [quadro retirado da mesma edição do jornal].

Segundo o texto, apenas 30% se dizem "muito interessados" em novas invenções e descobertas científicas (em 1992, esse número era de 38%). Não compreender (32%) ou simples falta de interesse (31%) são os argumentos principais apresentados pelos europeus, apanhando sobretudo: 1) mulheres com mais de 55 anos, 2) reformados, 3) trabalhadores manuais, 4) donas de casa e 5) níveis baixos de educação escolar. Mas também os jovens mostram um desinteresse preocupante, conclui Clara Barata, em especial os de idades entre 15 e 24 anos (38%). Portugal, no conjunto de países, é dos menos interessados pelos avanços da ciência: só 18% admite entusiasmar-se com o assunto.

pubciencia.jpgHá três anos, António Firmino da Costa, Patrícia Ávila e Sandra Mateus publicaram um livro designado Públicos da ciência em Portugal (Gradiva), onde se debruçaram sobre essa mesma problemática. Entrevistaram 2057 pessoas sobre o acesso e interesse em ler revistas de ciência, em 2001. A principal variável foi o nível de escolaridade.

Tendencialmente, quanto mais elevado o nível de escolaridade, maiores os conhecimentos científicos e mais positiva a atitude face à ciência (p. 57). Mas nem sempre um maior nível académico significa mais atenção à ciência.

Os autores encontrariam na sociedade nacional sete modos distintos de relação com a ciência, indo de um maior para um menor compromisso com ela: envolvidos, consolidados, iniciados, autodidactas, indiferentes, benevolentes e retraídos. Se os envolvidos tendem a frequentar ou a ter um grau académico universitário, idades relativamente jovens (e maioritariamente do sexo feminino) e exercem actividades de elevada qualificação, os retraídos são, dos grupos estudados, os mais velhos e com menores habilitações. Se aqueles representam apenas 2%, estes totalizam 28%.

Claro que entre uns e outros há cinco grupos que representam 70%, pelo que eu aconselho a leitura a quem gostar do tema. E o que se aplica a públicos de ciência também se ajusta ao estudo dos públicos da cultura e públicos das indústrias culturais.

Sem comentários: