SERÁ QUE JÁ PASSOU O TEMPO DOS GRANDES ARMAZÉNS?
A notícia retirei-a do Le Monde de ontem, edição a que aludi em post anterior. Muitos dos grandes armazéns - que surgiram em finais do século XIX como grandes superfícies no coração das cidades - estão a desaparecer. A peça, assinada por Stéphane Lauer, descreve a situação dos armazéns parisienses.
A Samaritaine fechou portas, o Printemps será vendido (o proprietário François-Henri Pinault impacientou-se com a baixa rentabilidade), o BHV vê também o volume de negócios baixar trimestre após trimestre, as galerias Lafayette fecharam já cinco armazéns fora de Paris.
O alerta começou nos anos 1970, com o aparecimento dos hipermercados. Seguindo o princípio de "tudo sob o mesmo tecto", mas com uma vocação de preços mais baixos, a grande distribuição tornou-se o modelo comercial dominante. Lê-se na peça jornalística que os centenários Magasins du Louvre e La Belle Jardinière foram os primeiros a desaparecer. Capitais familiares, gestão prudente, investimentos limitados, colecções fora de moda, preocupação de gerir o património imobiliário em vez de desenvolver o volume de negócios e alargar actividades - eis algumas das razões para a perda de competitividade desses espaços comerciais tradicionais e instalados em edifícios de belo porte arquitectónico no centro das cidades.
Na década de 1980, surgem as grandes superfícies especializadas, como a Zara e a H&M, que revolucionam de novo o modelo de negócios. A Zara renova sete vezes por ano o seu stock de colecções, ao passo que o armazém clássico como a Lafayette apenas duas vezes (Primavera-Verão, Outono-Inverno). Uma fraca rotação leva ao vendedor a fazer grandes descontos num só período, com o cliente a deslocar-se apenas nessa altura para ver as "pechinchas", ao passo que a estratégia da Zara obriga a uma constante visita de clientes aos saldos (de colecções ainda recentes), com a vantagem suplementar de ter sempre stocks limitados de novidades. Outra vantagem das marcas como a Zara e a H&M é a cascata de distribuidores e fabricantes, o que elimina o conceito de armazém como grande espaço de colocação de materiais a vender.
A marca especializada impõe margens de lucro (a montante: fabricantes e distribuidores) e constrói uma oferta específica (a juzante: aos clientes). Os preços atraentes dos armazéns de marcas resultam do esmagamento de marges de lucro em toda a cadeia de valor; os preços não atraentes dos armazéns clássicos resultam dos custos elevados no pagamento de aluguer e manutenção dos edifícios antigos em zonas prestigiadas.
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