domingo, 25 de setembro de 2005

COMO CATIVAR JOVENS LEITORES DE IMPRENSA?

Há quem diga, presentemente, que os jornais gratuitos servem para criar hábitos de leitura a públicos jovens (16 aos 25 anos). Confesso que, apesar de registar a bondade dessa perspectiva, tenho dúvidas. Claro que não me apoio em dados empíricos; logo, a minha visão pode estar errada.

elmundo2592005.jpgUma outra faixa etária a ser trabalhada é ainda mais jovem. Daí me parecer interessante a proposta indicada no jornal El Mundo de hoje. María Jesús de la Puerta, licenciada em jornalismo, com 33 anos, começou, dois anos atrás, a editar um jornal, Mi Periódico, destinado a jovens que frequentam 90 escolas na região de Sevilha (dos 12 aos 17 anos).

Qual a razão do arranque do jornal e do seu sucesso? María Jesús de la Puerta estava convenciada que os jovens tinham outros interesses para além da televisão, dos videojogos e da telenovela. Descobriu que os jovens queriam andar informados, mas os jornais tradicionais não lhes explicavam adequadamente as razões do conflito do Médio Oriente, o que aconteceu após a queda do Muro de Berlim ou o que é o plano Ibarretxe (País Basco), o que os obrigava a pedir ajuda aos pais. Além de que o grafismo dos jornais não era atraente.

Desde que começou já editou 30 números, cada um vendido a €0,59. Trabalha com mais oito jornalistas e facturou €70 mil o ano passado. Em breve, espera alargar o seu jornalinho a Huelva e Málaga, para além de Sevilha.

kulto2592005.jpgJá aqui registei uma ideia da revista Visão. Recentemente, o Público saiu com um caderno dominical, o "Kulto", certamente orientado para um público ainda mais jovem, para crianças que começaram a ler ou que ainda frequentam os primeiros anos escolares. O grafismo evoca directamente o mundo dos videojogos e das séries animadas para crianças e os textos acompanham o nível intelectual delas, tipo Obélix vs Shrek, como vem na edição de hoje. E onde, a propósito dos telefones celulares, se lê: "Por isso, não vale a pena dizeres aos teus pais que és a pessoa mais infeliz do mundo se eles não te comprarem imediatamente o último modelo [...]. Lembra-te que eles tiveram uma infância difícil e que se quisessem passar os dias a mandar mensagens aos amigos tinham de arranjar um pombo-correio". Na realidade - e o texto aborda isso antes - os telemóveis têm pouco mais de 25 anos, e os pais dos meninos que agora lêem o "Kulto" não os tinham porque não havia.

Para mim, o "Kulto" não é um projecto para informar e manter actualizado os jovens que o lêem, como o projecto sevilhano. Traz algumas informações úteis, como ciência, desportos e muitas dicas. Mas não me parece que prepare uma nova geração para ler jornais. É que, mesmo que estivesse correctamente posicionado para um público etário, ele é muito estreito e não serve para uma banda de alguns anos (pela linguagem e temáticas expressas). Se criar leitores fiéis, perdê-los-á à medida que as crianças cresçam, o que implica arranjar fiéis entre os mais pequenos, num ciclo permanente de conquista. Creio que esse é o falhanço que se pode apontar à publicação.

1 comentário:

Anónimo disse...

Talvez a estratégia seja apenas o de expor os leitores aos anúncios da publicação. O projecto espanhol parece-me bem mais inteligente.