CENTROS COMERCIAIS
No dia 25 de Setembro último, o Público dava o destaque aos centros comerciais. A razão era a comemoração do vigésimo aniversário do centro Amoreiras, em Lisboa.
A bela fotografia da capa do jornal pertence a Miguel Madeira e os cuidadosos textos têm a assinatura de Ricardo Dias Felner, Dulce Furtado, Luísa Pinto e Andréia Azevedo Soares. O que me proponho aqui é olhar e reflectir estes textos jornalísticos.
Escreve Ricardo Dias Felner que o Amoreiras, vinte anos depois, "está na moda. Nunca esteve tanto na moda", com a estética renovada das 208 lojas e a população que a frequenta ("um misto de executivas com malas Louis Vuitton, aristocratas de Cascais e yuppies"). O aparecimento do Colombo traria uma quebra de quantidade (cerca de 12%), com uma recuperação posterior (das razões apontadas falava-se da existência da estação de metro junto ao Colombo e, mais recentemente, dos problemas trazidos pela indecisão em avançar com o túnel do Marquês, ligado directamente às Amoreiras). Curioso é que a área bruta locável (ABL) ser muito maior no Colombo (o maior do país, com 119739 metros quadrados e quase 30 milhões de visitantes em 2003), enquanto o Amoreiras ocupa a 25ª posição (26118 metros quadrados e cerca de 11 milhões de visitantes em 2003). Em termos de volume de vendas o Amoreiras não apresenta números, sendo o Colombo o de maior número (média mensal de €53 milhões), seguindo-se o Norte Shopping (€35 milhões).
Uma das peças que me chamou mais a atenção [em cinco páginas de texto, o que é notável, tanto mais quando o patrão do Público é igualmente detentor de grandes superfícies, e com os jornalistas a manifestarem um distanciamento e isenção total face a esse poder] é a que tem o título De templos do consumo a áreas de lazer, escrito por Andréia Azevedo Soares. Ela recolhe dados de sociólogos, como Alice Duarte, professora da Faculdade de Letras do Porto, a acabar uma tese de doutoramento com o título Novos consumos e identidades em Portugal - uma perspectiva antropológica, para quem as pessoas se apropriaram de lugares que, sendo de posse privada, acabam "por assumir as funções de um espaço público". A mesma socióloga destacou o facto de haver pessoas velhas que marcam encontros com os netos nos centros comerciais ou fazem caminhadas pelos corredores, dado ali estarem protegidas da chuva, do frio e do calor. Além de que os centros comerciais oferecem segurança, casas de banho gratuitas e estacionamento garantido (embora pago).
Já no Expresso do pretérito sábado, e com peça assinada por Catarina Nunes (e fotografia de João Carlos Santos), se dava conta de uma outra realidade no consumo, a das marcas que procuram fazer frente à Ikea. Por exemplo, as lojas Habitat, segundo se lê no texto, "vão passar a denominar-se área, num espaço multimarca direccionado para o mercado de luxo". Além desta última característica, esta cadeia de lojas apostará em tendências e produtos básicos. Também marcas como Lamartine, Dimensão e Kit Market reposicionam-se em termos de segmentos de decoração e perfis de consumidores.
Texto recente sobre o tema: Pedro Monteiro (2003). "Espaço público no centro comercial: o Amoreiras como porta de entrada". Trajectos, 3: 9-19
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