A MÚSICA FOI À VIDA
Este é o título da notícia - saída sábado passado no Expresso e assinada por Pedro Lima - sobre a mudança de estratégia das lojas Valentim de Carvalho. Conhecidas há muitos anos por serem lojas de música, vão-se transformar em livrarias, onde também se vendem discos e filmes. A JRP, que adquiriu 72% do capital das lojas, deixa de apostar em jogos de computador e cafetarias (a experiência no Centro Comercial Saldanha Residence, que eu saudara aqui, quase no começo do blogue, com a cafetaria Magnólia, não correu bem). As lojas vão também optar por superfícies de maior dimensão (500 metros quadrados). A notícia dá ainda conta de um estudo dos clientes das lojas Valentim de Carvalho: 2/3 são homens, 80% têm menos de 44 anos, 30% trabalham em profissões intelectuais e científicas e 24% são estudantes.
Recordo um parágrafo do texto que editei em 3 de Abril de 2003: "desde 1914, [Valentim de Carvalho] ocupava a rua da Assunção, 39, onde vendia nomeadamente capas e letras de músicas (de revistas). Depois, em 1923, ocupa também o até então chamado salão Neuparth [cujo nome mantém], à rua Nova do Almada, 95 a 99, no Chiado. O estabelecimento fora fundado por Eduardo Neuparth em 1824, ligado à música. Valentim vendia gramofones, discos, pianos e músicas. Ainda em 1923 edita o conjunto da obra de António Fragoso, considerado então a principal figura da música portuguesa. Desenvolvia-se o salão Neuparth, com publicidade feita com desenho de Stuart Carvalhais, em estilo jazzband, e na altura em que o cancan e o charleston se ouviam nos discos".
Mais tarde, Valentim de Carvalho chegaria a abrir um moderno estabelecimento de venda de instrumentos musicais, na Avenida de Roma, aqui em Lisboa, por altura da instalação da rede de metropolitano. No Porto, abririria duas lojas na rua 31 de Janeiro (antiga rua de Santo António), uma com o seu nome e outra com o nome de Vadeca. Em Paço d'Arcos, instalaria um estúdio de rádio e televisão (que se mantém, mas com outro dono). Após o incêndio do Chiado, em 1985 - e já com o seu fundador desaparecido -, a marca das lojas foi perdendo relevo. A abertura da FNAC no mesmo Chiado foi o golpe de misericórdia. A mudança de propriedade três anos atrás veio dar um novo fôlego, mas estava já em processo o sistema gratuito de downloading de música, rebentando com o núcleo central da actividade das lojas.
2 comentários:
Bom dia. Repare como a duvidosa lógica do grupo (JRP) se manifesta nas lojas V de C e fora delas, através da saturação do mercado (livros) com edições sucessivas - depois vendidas ao desbarato, com descontos acumulados em DVDs e CDs nas mesmas lojas V de C - de romances débeis, de literatura "ultra light" e às vezes muito "hard core", de livros cujo "valor" cultural desaparece em três ou quatro meses (Oficina do Livro e apêndices, herança da ex-Editorial Notícias). Este e um caso de aplicação perversa da noção de "indústria cultural"!...
P.
Professor, permita-me o atrevimento de chamar a sua atenção para um texto que coloquei em http://blogia.com/osegundochoque/index.php?idarticulo=200510045 sobre este mesmo assunto.
Um abraço
jpmeneses
Enviar um comentário