
O texto de Vítor Gonçalves, editor de política nacional da RTP, produzido inicialmente como dissertação de mestrado no ISCSP, procura saber o papel desempenhado pelos assessores de imprensa de um Governo, isto é, as "tarefas ou funções predominantes, como se relacionam com o partido que sustenta o governo, com o político a quem assessoriam e com os jornalistas, quais as linhas mestras da sua actuação enquanto assessores de imprensa" (p. 27). No caso, os assessores dos governos de António Guterres (1995-2002), pelo que entrevistou 56 indivíduos (um outro não respondeu ao inquérito).

Há uma constatação interessante feita no livro: a admiração pelo político que o convidou figura como razão muito forte para aceitação do lugar de assessor de imprensa (60,7%) (p. 139). Já a ligação do assessor ao partido do político que o convidou é irrelevante. Vítor Gonçalves entende que tal distanciamento se deve ao facto da maioria dos assessores ser oriunda do jornalismo, onde tal prática em relação aos partidos significa isenção. O dinheiro a ganhar na função parece não ser um factor relevante, com quase metade dos assessores a responderem nesse sentido.


Televisão e outros media
Trabalhando na televisão, é evidente o entusiasmo que ele dedica a este meio e o relaciona com a política, onde salienta a "civilização da imagem". Ele situa alguns americanos: se Bill Clinton construiu a sua imagem em torno de ideias como juventude, vigor e radicalismo, Jimmy Carter ganhou as eleições por ser um self-made-man e um pequeno empresário e Ronald Reagan como o bom rapaz, bonito e simpático mas firme e inflexível com os inimigos da liberdade (p. 71). Olhando para Portugal, António Guterres candidatou-se a primeiro-ministro em 1985 como "homem de diálogo" e em que "as pessoas não são números", em contraponto com a ideia de "arrogância" de Cavaco Silva, então no cargo (p. 72). Este mesmo registaria uma evolução significativa na sua imagem, tendo tido aulas com uma actriz, Glória de Matos, para melhorar a sua dicção.
E, aí, entram os assessores de imprensa, que "contactam com os opinion makers ou mesmo os jornalistas, para vincar os aspectos mais positivos da intervenção do seu líder como também para justificar comportamentos que se revelaram mais frágeis durante o debate, de modo a serem «desvalorizados» nas apreciações que, indubitavelmente, irão ser feitas" (p. 67). É que há uma tendência dos jornalistas para olharem, com frequência, para uma frase no discurso do candidato ou do líder, os soundbites ou pequenas frases (p. 59).
Mais voltado para os candidatos, Vítor Gonçalves mostra o modo como o líder ocupa o espaço mediático: a sua imagem torna-se o principal ou único elemento de cartazes, enquanto nos palcos do comício ele fica isolado (p. 76) e faz os seus principais discursos na televisão (p. 81). Contudo, os jornais e os outdoors também são imprescindíveis, como podemos ler e observar na paisagem urbana.
Assim, deixo imagens dos candidatos a presidente da República, como os captei em cartazes na cidade, por ordem alfabética: Aníbal Cavaco Silva, Francisco Louçã, Garcia Pereira, Jerónimo (de Sousa), Manuel Alegre e Mário Soares.






Leitura (em progresso): Vítor Gonçalves (2005). Nos bastidores do jogo político. O poder dos assessores. Coimbra: MinervaCoimbra, 197 páginas. Preço: €17.
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