quarta-feira, 18 de janeiro de 2006

PRIMEIRA PÁGINA DO PÚBLICO

Há dias em que a capa do Público é um mimo, caso da de hoje. Para além do tema da seca como destaque, o tema que ocupa parte significativa dessa página - a notícia do investimento da Ikea em Portugal - tem um tratamento estético que quero aqui elogiar.

Embora não apareça identificado o designer - talvez porque as peças de mobiliário ali representadas façam parte do catálogo da marca -, há na edição de hoje um sentido de movimento e graciosidade mais natural nas capas de revistas. Isto porque os diários têm uma rotina de trabalho muito apertada em termos de tempo, que não lhes permite amadurecer opções estéticas. Pode-se olhar para a composição e pensar num puzzle ou numa colagem. Apesar de a imagem conter elementos reais, há um sentido de abstracção, como aquele que encontramos nos mapas das cidades ou nos percursos de autocarros ou metro ou, ainda, nos esquemas de equipamentos electrónicos.

Tenho aqui comentado que o grafismo do Público se tornou rapidamente clássico, se comparado com o do renovado Diário de Notícias. Mas estas páginas, apesar da estrutura mais antiga que suporta o jornal, dão uma vivacidade e um entusiasmo a quem o compra e lê. Já o novo layout do Diário de Notícias, passada a novidade dos primeiros dias, surge-me com algumas fragilidades. A falta de filetes, por exemplo. Henrique Cayate, certamente, não é apreciador do gestaltismo (forma), como Rudolf Arnheim preconizara na arte.

Ora, nós precisamos de ter linhas, apontadores, sequências, cortes. Um jornal de qualidade é lido por gente com hábitos de leitura enraizados, que olha o todo, a mancha da página no conjunto, antes de focar a notícia em particular. O leitor faz uma espécie de varrimento da página. Se olharmos o jornal de baixo para cima (ou de cima para baixo), a leitura é feita em termos de bloco. Ora, o editorial do dia confunde-se com as cartas de leitor ou com a coluna de opinião do colunista do dia. Por momentos, fica-se sem saber a quem pertence a escrita.

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