quinta-feira, 16 de fevereiro de 2006

LIVRO DE FERNANDO CORREIA APRESENTADO POR MÁRIO MESQUITA

Decorreu, ao princípio desta noite e com sala cheia, o lançamento do novo livro de Fernando Correia, Jornalismo, grupos económicos e democracia, da editorial Caminho.


Mário Mesquita apresentou o livro do jornalista profissional com quarenta anos de carreira, licenciado em filosofia (Universidade Clássica) e mestre em Comunicação (ISCTE), chefe de redacção da revista Vértice, autor de outras obras como Jornalistas e notícias e professor associado da Universidade Lusófona [o presidente do sindicato dos Jornalistas, Alfredo Maia, também chamado a apresentar o livro, não esteve presente, por razões de saúde, mas fez ler através de uma mensagem escrita].



Mário Mesquita - seguindo uma perspectiva de leitura crítica - começou por destacar o modo como o livro está escrito, uma síntese do tema em linguagem acessível ao público em geral. Para ele, o autor mostra os media sob vários ângulos e parte da assunção dos jornalistas enquanto produtores de notícias que olham os media como espaço de informação. Fernando Correia distingue as empresas dos media e os jornalistas: os primeiros buscam critérios comerciais, os segundos critérios de informação. Mas pode ir-se mais longe: os patrões vêem os jornais (e os media em geral) como um produto económico, os publicitários como suporte de anúncios, os dirigentes políticos como instrumento de luta, os cidadãos como espaço de discussão e os intelectuais como instância de visibilidade. Ou, no caso de muitas pessoas, os media são a única forma de conhecimento ou grande agente de socialização [nas fotografias, da esquerda para a direita: Mário Mesquita, Fernando Correia e José Oliveira, administrador da editorial Caminho].



Ora, prossegue Mário Mesquita, não será que os critérios jornalísticos - os chamados valores-notícia, que levam um jornalista a escolher um acontecimento e não outro, pela raridade, excepcionalidade ou negatividade - implicam logo uma opção comercial, no sentido de suscitar o interesse público? Por outro lado, se não se acredita na neutralidade da informação (a subjectividade, o interesse individual), será que se pode recusar aquele valor a que os sociólogos distanciamento?

Um outro tema abordado no livro e comentado pelo apresentador é o referente à autonomia e liberdade de expressão. Estas dependem dos centros de decisão, que podem ser económicos ou políticos. Mas dependem também dos jornalistas e da sua cultura profissional. Mário Mesquita, servindo-se da actual polémica dos cartunes, encontra vários graus de liberdade de expressão, que dependem dos países, das épocas, da jurisprudência e dos próprios constrangimentos da sociedade.

Numa exposição longa mas muito estimulante como é seu timbre, Mário Mesquita ainda teve tempo para defender o jornalismo como artesanato ou profissão intelectual, longe da pretensão do profissional dotado de saberes científicos e técnicos (para além daqueles que resultam da operação com equipamentos tecnológicos e multimedia). O comentador vê o jornalismo mais como uma arte, uma capacidade de expressão. Para ele, o jornalismo começou como actividade amadora e se hoje é profissional é porque há géneros como a reportagem que carecem de um domínio ou construção. E falou do ciberespaço e dos blogues, que têm permitido o renascimento do jornalismo amador.


Fernando Correia falou também do livro e do poder dos media inseparável do poder dentro dos media, com aquele condicionado por este. E, fazendo juz ao título da obra, descreveu a natureza da propriedade e a crescente concentração da propriedade dos media.

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