40 ANOS DE REDE GLOBO
O ano passado saíu o livro Rede Globo. 40 anos de poder e hegemonia, organizado pelos professores universitários Valério Cruz Brittos e César Bolaño e editado pela Paulus, editora brasileira de São Paulo. Do que se trata no livro, é fácil de perceber logo no título: o império mediático construído por Roberto Marinho.
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O livro está muito bem organizado, pois olha o poder da Globo, em especial a partir de 1965, quando surge o canal de televisão com aquele nome, em diversas perspectivas, da jurídica à política (o coronelismo), da internacionalização (destaque para o nosso país) aos formatos que originaram grandes sucessos (telenovela, audiovisual comunitário, educação) e aos outros media das Organizações Globo (imprensa, rádio, fonografia, televisão paga e cinema). São 17 capítulos num texto de 373 páginas (cerca de 20 páginas em média por capítulo).
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1977 foi ainda o ano da primeira presença da Globo no "Marché International des Programmes de Télévision" (MIP TV), a mais importante montra mundial onde a exposição de produtos significa possibilidades de bons negócios. Mas, escreve Brittos, o mercado europeu é mais significativo que o norte-americano, pois aquele tem dimensão, poder aquisitivo e relativa carência de produtos televisivos. Já em 1980, a série Sítio do Picapau Amarelo era escolhida pela Unesco como exemplo de um bom programa para crianças. E Brittos volta a destacar a importância de Portugal como campo experimental da estratégia internacional da Globo, através da muito bem aceite parceria com a SIC: a resposta de públicos e anunciantes desenharam um competitivo e vencedor quadro de internacionalização da Globo.
A telenovela é a locomotiva [carro-chefe, na bonita designação brasileira] da televisão. Daí, eu saltar para o texto de Sílvia Borelli (pp. 187-203). É que a história dos sucessos da Globo constituem também uma parcela crescente da memória televisiva em Portugal. Borelli, professora da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, começa o seu texto lembrando o tripé da televisão brasileira: jornalismo, variedades e dramaturgia. A telenovela está na grelha de programas (grade, no Brasil) da Globo desde 1965, ou seja, desde o arranque do canal. E no horário nobre, com duas novelas (das 7 e das 8), ensaduichando o Jornal Nacional (estratégia moderna das portuguesas SIC e da TVI). A novela - que contribuiu para a construção da grelha vertical de programação, com conhecimento prévio e regular no dia-a-dia da recepção televisiva - é um produto de baixo custo de produção e alto grau de rentabilidade, pois uma novela com 150 ou 200 episódios paga-se ao fim de dois a três meses de veiculação. Isto sem ter em conta as receitas de merchandising (ou de product-placement). A autora não descura ainda a competência tecnológica (produto de qualidade) da novela com o selo da Globo.
Roberto Marinho (1904-2003) começou a sua carreira como jornalista do jornal Globo (propriedade da família), no ano de lançamento do diário (1925), chegando a seu director em 1931. O alargamento aos outros media foi sendo conseguido paulatinamente: a rádio em 1944, a televisão em 1965, a indústria fonográfica em 1971 (marca Som Livre), a televisão por assinatura em 1992 e o cinema em 1998. Diversos capítulos anotam as relações do grupo mediático Globo com a ditadura militar que rebentou no Brasil em 1964, assim como a oposição à eleição de Leonel Brizola para governador estadual, aos presidentes Getúlio Vargas e Juscelino Kubitschek de Oliveira e à campanha Diretas já (1984).
Leitura: Valério Brittos e César Bolaño (2005) (org.). Rede Globo. 40 anos de poder e hegemonia. São Paulo: Paulus.
4 comentários:
Conheça "Ausência" de Paz Kardo em http://ausenciapazkardo.blogspot.com
Conheça o meu apreço por mais um post de conteúdo excelente - das novelas realço as duas brilhantes realizações da Globo do 'Sítio do Picapau Amarelo' cuja boneca Emília do M.Lobato foi lida na minha infância brasileira, vista e fantasiada por filhos e revista (hoje) por netos.
MJE
Obrigado, arquitecta Maria João Eloy, por este (e outros) seu comentário.
Parece-me ser uma pessoa que gosta de pesquisar cultura, visite-me e critique
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