sábado, 1 de abril de 2006

O BELO, A VÍTIMA E A VILÃ

Observação prévia: eu tenho a melhor consideração pelas pessoas sobre as quais vou escrever. O que se segue é uma especulação sobre a vida pessoal delas, a partir da leitura de revistas cor-de-rosa saidas no final desta semana.

Citação prévia: "O típico roteiro de uma telenovela narra uma variação de Cinderela, em que uma estudante, costureira ou criada, consegue subir na vida e ganhar o coração do herói; ou a alternativa favorita da vingança de uma traição, ao estilo de O conde de Monte Cristo" (Pablo Bachelet, Gustavo Cisneros. Um empresário global. S. Paulo, Planeta, 2004, p. 131) [Cisneros é o patrão do canal Venevisíon, canal com maior audiência na Venezuela].

Frase prévia de reflexão: "«Floribela» é a Cinderela moderna da nova novela da SIC" (Diário de Notícias, 16 de Fevereiro de 2006).

Tema de capa de três revistas cor-de-rosa ou sociedade do final desta semana - sendo em duas delas o tema de destaque - é a separação de Francisco Penim, director de programas da SIC, da sua mulher Clara de Sousa e o romance (ou aproximação) daquele com a modelo e actriz Soraia Chaves.


Entrando dentro das revistas, percepciona-se melhor o tema: 1) na Flash, o texto ocupa cerca de um quarto de página em duas páginas sobre o caso, 2) na Nova Gente há, em três páginas, cerca de uma com texto, 3) na Caras, cerca de meia página de texto em três páginas. No conjunto das três revistas há 25 fotografias, sem contar as das capas.

Assuntos que destaco da pouca informação veiculada pelas revistas: 1) apesar de totalmente dedicado ao trabalho, Penim arranjou tempo para ver Soraia Chaves ao Porto, no PortugalFashion, 2) Chaves esteve bem com os modelos da Lion of Porches mas chamou a atenção de Penim com as propostas de Pedro Waterland, 3) no final, terão ido à discoteca Chic, 4) não são namorados mas apenas amigos e com uma relação profissional, como frisaram os dois, 5) Chaves vai ser actriz e apresentadora na SIC, tendo sido levada para o primeiro papel, em Crime do padre Amaro, pelo antecessor de Penim, Manuel Fonseca, 6) entretanto, Clara de Sousa não fala sobre o assunto desde a separação, 7) já existiam zangas prévias (três, para ser mais preciso) entre os dois, casados há vinte anos, 8) os seis meses de Penim à frente da SIC têm sido de horror, pois não conseguiu aproximar-se da TVI mas sim deixou a RTP aproximar-se da SIC, 9) Penim e Sousa viviam, pelo menos até à semana passada, na mesma casa, pois têm dois filhos ainda pequenos, de nove e seis anos, e é preciso prepará-los para a separação.

Para concluir a minha leitura das revistas, refiro que há fotografias que mostram Francisco Penim extasiado e sorridente no seu lugar junto à passerelle; a Flash mostra mesmo uma fotografia com Soraia Chaves no centro da mesma, quando passava um modelo, e Penim em fundo à direita. E destaco ainda uma frase na capa de uma das revistas (Nova Gente): "Francisco Penim. Vida louca de solteiro. Noitadas. Mulheres. Amigos".

Temos aqui os ingredientes de uma novela venezuelana (que não a narrativa brasileira, produto melhor elaborado e mais complexo, incluindo abordagem de temas sociais novos, que despertam discussão pública). Logo, a pergunta que se faz é: qual o interesse público nesta separação? Todo, pois mexericos de gente famosa e celebridades (do mundo do espectáculo ou do jornalismo) despertam sempre a curiosidade. É como se se construisse uma novela dentro da novela.


Não por acaso, a história de Penim e dos seus amores salta para as revistas cor-de-rosa na semana de lançamento da nova novela da SIC, Floribela, uma aposta pessoal do director de programas do canal. Sem ser ingénuo ou cínico - e, igualmente, sem querer magoar qualquer dos intervenientes nesta história -, o pleno nas revistas cor-de-rosa em torno de Francisco Penim é uma boa aplicação de marketing, pois coloca a SIC nas bocas do mundo. Há, pelo menos, um noticiar do mesmo facto em todas as publicações - a passagem de modelos e Penim junto a Chaves -, que significa um agendamento criado por alguém ou alguma instituição. E quem informou os media? Penim, certamente = estratégia concertada de comunicação.

Na minha leitura destas coisas, a SIC obteve a liderança em audiências há onze anos com três produtos, um deles externo: noticiários inovadores, telenovelas brasileiras (que faziam sucesso já na RTP, mas a Globo deixou o canal público e fez um acordo com a SIC) e capas das revistas cor-de-rosa. Mais perto de nós, a TVI retirou à SIC a liderança das audiências apostando igualmente em terrenos internos mas também externos: noticiários populares, novelas portuguesas, reality-show Big Brother, Morangos com açúcar e capas das revistas cor-de-rosa. Isto é: para além da produção inerente aos canais, as revistas funcionam como alavancagem dos sucessos dos canais privados. E a recuperação da SIC passa pelas revistas que lhe dão as capas. O facto de haver um belo, uma vítima e uma vilã nas histórias de capa das revistas só aumenta a curiosidade pública. A cinderela Floribela é o lado ao contrário e/ou complementar da história de Penim.

Refira-se, ainda, que as audiências de ontem revelaram que os primeiros cinco lugares foram para Dei-te quase tudo (15,8% em audiência média e 39,7% em share), seguindo-se Morangos com açúcar, das 21:00 (14,9% e 36,11% respectivamente), Morangos com açúcar, das 19:00 (11,0% e 42,7%), Alma gémea (SIC) (11,8% e 32,0%) e Fala-me de amor (11,7% e 38,9%). Floribela vem depois, não sei em que lugar; ver-se-á nos jornais de amanhã. Mas não parece um começo auspicioso.

Ficha técnica das revistas: Flash pertence ao grupo Cofina e custa €1,30, Caras pertence ao grupo Impresa, tem tiragem de 115850 e custa €1,35, Nova Gente pertence ao grupo Impala, com tiragem de 178625 e custa €1,25.

Observação final: Francisco Penim foi o meu convidado na aula de Media, Públicos e Audiências, da última 5ª feira. Gostei muito da sua participação, em especial quanto ao modo como olha a profissão de programador, sempre no fio da navalha.

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