Observação prévia: eu tenho a melhor consideração pelas pessoas sobre as quais vou escrever. O que se segue é uma especulação sobre a vida pessoal delas, a partir da leitura de revistas cor-de-rosa saidas no final desta semana.
Citação prévia: "O típico roteiro de uma telenovela narra uma variação de Cinderela, em que uma estudante, costureira ou criada, consegue subir na vida e ganhar o coração do herói; ou a alternativa favorita da vingança de uma traição, ao estilo de O conde de Monte Cristo" (Pablo Bachelet, Gustavo Cisneros. Um empresário global. S. Paulo, Planeta, 2004, p. 131) [Cisneros é o patrão do canal Venevisíon, canal com maior audiência na Venezuela].
Frase prévia de reflexão: "«Floribela» é a Cinderela moderna da nova novela da SIC" (Diário de Notícias, 16 de Fevereiro de 2006).
Tema de capa de três revistas cor-de-rosa ou sociedade do final desta semana - sendo em duas delas o tema de destaque - é a separação de Francisco Penim, director de programas da SIC, da sua mulher Clara de Sousa e o romance (ou aproximação) daquele com a modelo e actriz Soraia Chaves.
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Assuntos que destaco da pouca informação veiculada pelas revistas: 1) apesar de totalmente dedicado ao trabalho, Penim arranjou tempo para ver Soraia Chaves ao Porto, no PortugalFashion, 2) Chaves esteve bem com os modelos da Lion of Porches mas chamou a atenção de Penim com as propostas de Pedro Waterland, 3) no final, terão ido à discoteca Chic, 4) não são namorados mas apenas amigos e com uma relação profissional, como frisaram os dois, 5) Chaves vai ser actriz e apresentadora na SIC, tendo sido levada para o primeiro papel, em Crime do padre Amaro, pelo antecessor de Penim, Manuel Fonseca, 6) entretanto, Clara de Sousa não fala sobre o assunto desde a separação, 7) já existiam zangas prévias (três, para ser mais preciso) entre os dois, casados há vinte anos, 8) os seis meses de Penim à frente da SIC têm sido de horror, pois não conseguiu aproximar-se da TVI mas sim deixou a RTP aproximar-se da SIC, 9) Penim e Sousa viviam, pelo menos até à semana passada, na mesma casa, pois têm dois filhos ainda pequenos, de nove e seis anos, e é preciso prepará-los para a separação.
Para concluir a minha leitura das revistas, refiro que há fotografias que mostram Francisco Penim extasiado e sorridente no seu lugar junto à passerelle; a Flash mostra mesmo uma fotografia com Soraia Chaves no centro da mesma, quando passava um modelo, e Penim em fundo à direita. E destaco ainda uma frase na capa de uma das revistas (Nova Gente): "Francisco Penim. Vida louca de solteiro. Noitadas. Mulheres. Amigos".
Temos aqui os ingredientes de uma novela venezuelana (que não a narrativa brasileira, produto melhor elaborado e mais complexo, incluindo abordagem de temas sociais novos, que despertam discussão pública). Logo, a pergunta que se faz é: qual o interesse público nesta separação? Todo, pois mexericos de gente famosa e celebridades (do mundo do espectáculo ou do jornalismo) despertam sempre a curiosidade. É como se se construisse uma novela dentro da novela.
Não por acaso, a história de Penim e dos seus amores salta para as revistas cor-de-rosa na semana de lançamento da nova novela da SIC, Floribela, uma aposta pessoal do director de programas do canal. Sem ser ingénuo ou cínico - e, igualmente, sem querer magoar qualquer dos intervenientes nesta história -, o pleno nas revistas cor-de-rosa em torno de Francisco Penim é uma boa aplicação de marketing, pois coloca a SIC nas bocas do mundo. Há, pelo menos, um noticiar do mesmo facto em todas as publicações - a passagem de modelos e Penim junto a Chaves -, que significa um agendamento criado por alguém ou alguma instituição. E quem informou os media? Penim, certamente = estratégia concertada de comunicação.
Na minha leitura destas coisas, a SIC obteve a liderança em audiências há onze anos com três produtos, um deles externo: noticiários inovadores, telenovelas brasileiras (que faziam sucesso já na RTP, mas a Globo deixou o canal público e fez um acordo com a SIC) e capas das revistas cor-de-rosa. Mais perto de nós, a TVI retirou à SIC a liderança das audiências apostando igualmente em terrenos internos mas também externos: noticiários populares, novelas portuguesas, reality-show Big Brother, Morangos com açúcar e capas das revistas cor-de-rosa. Isto é: para além da produção inerente aos canais, as revistas funcionam como alavancagem dos sucessos dos canais privados. E a recuperação da SIC passa pelas revistas que lhe dão as capas. O facto de haver um belo, uma vítima e uma vilã nas histórias de capa das revistas só aumenta a curiosidade pública. A cinderela Floribela é o lado ao contrário e/ou complementar da história de Penim.
Refira-se, ainda, que as audiências de ontem revelaram que os primeiros cinco lugares foram para Dei-te quase tudo (15,8% em audiência média e 39,7% em share), seguindo-se Morangos com açúcar, das 21:00 (14,9% e 36,11% respectivamente), Morangos com açúcar, das 19:00 (11,0% e 42,7%), Alma gémea (SIC) (11,8% e 32,0%) e Fala-me de amor (11,7% e 38,9%). Floribela vem depois, não sei em que lugar; ver-se-á nos jornais de amanhã. Mas não parece um começo auspicioso.
Ficha técnica das revistas: Flash pertence ao grupo Cofina e custa €1,30, Caras pertence ao grupo Impresa, tem tiragem de 115850 e custa €1,35, Nova Gente pertence ao grupo Impala, com tiragem de 178625 e custa €1,25.
Observação final: Francisco Penim foi o meu convidado na aula de Media, Públicos e Audiências, da última 5ª feira. Gostei muito da sua participação, em especial quanto ao modo como olha a profissão de programador, sempre no fio da navalha.
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