quinta-feira, 25 de maio de 2006

EDUCAÇÃO PARA OS MEDIA

O ponto de partida é substituir o quarto poder - atribuído aos jornalistas - por um quinto poder, aquilo a que Manuela Espírito Santo chama de práticas de educação cidadã.

A partir de relatos de jornalistas como Manuel António Pina, César Príncipe e Baptista Bastos, e de textos de Xosé Soengas, Ignacio Ramonet, Philippe Breton e Fernando Ilharco, a autora avança a construção de uma nova censura nos tempos de hoje, onde se podem distinguir uma directa, exercida de topo para base por parte dos detentores da propriedade das organizações noticiosas, e outra, indirecta, da base para cima, quando promotores de informação não a fornecem totalmente. Daí, propõe-nos a educação para os media, em que aos mais jovens sejam fornecidos instrumentos de análise.

Não estou de acordo com a totalidade das proposições de Manuela Espírito Santo. Ela parece colocar as raízes dos problemas dos media na sua construção específica em Portugal, embora fazendo referências ao mundo e a leituras publicadas fora do país. Sem o explicitar, nota-se uma crítica à economia de mercado, mas não avança com uma alternativa, pois parte de um quadro existente. Isto é, aponta males, mas não propõe ou sugere curas.

As organizações jornalísticas evoluiram ao longo do tempo, muitas vezes tacteando a sua evolução, em busca de soluções. A mensagem que ontem coloquei, a propósito de trabalhos de mestrado e doutoramento de Paula Miranda, onde se abordam o nascimento e o crescimento de jornais (Diário de Notícias, Século, Primeiro de Janeiro), elucida o modo como os media têm uma relação (mais fácil ou difícil) com a sociedade e a estrutura económica e política vigente. Os próprios jornais sentiram necessidade de abandonar critérios de ordem ideológica como elementos de sobrevivência das suas propostas. Isto é, não houve uma determinação externa total que os reorientasse. Fazer um jornal implica vender exemplares do jornal.

A educação para os media é exterior ao processo de fabrico dos media. A consciência crítica adquirida implica aquilo a que Manuela Espírito Santo chama educação cidadã. Ou seja, a que permite a escolha, por parte de cada um, dos produtos informativos mais adequados à própria formação individual. Assim, no seu texto, há uma amputação fundamental, o esquecimento da construção dos media em si e da sua relação com o mundo.

Manuela Espírito Santo é directora de comunicação e relações públicas da câmara municipal de Matosinhos. Anteriormente, foi vice-presidente do Inatel e fez parte das direcções do Teatro Experimental do Porto de da cooperativa FITEI. Actualmente, está a tirar mestrado em comunicação na Universidade do Minho e tem o curso superior de Teatro. Foi uma das melhores alunas que tive aquando da minha passagem na Árvore - Escola Superior de Ensino Artístico, em meados dos anos 80.

Leitura: Manuela Espírito Santo (2006). Por um quinto poder em defesa do futuro cidadão. Combate à nova censura através da educação para os media. Porto: Arca das Letras, 46 páginas, preço €5.

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