A história conta-se em poucas linhas. Na semana passada, Paul McCartney - um dos músicos dos Beatles - separou-se da mulher Heather. E, hoje, o Sunday Times, com chamada de atenção na primeira página e toda a página 13 (1º caderno), traz uma carta de Christopher Terrill dirigida ao abandonado "beatle".
Na longa carta, Chris diz que ele e Paul nunca se encontraram. Até são muito diferentes: Paul é muito rico e globalmente conhecido, Chris é apenas um simples cineasta, o primeiro recebeu o grau de cavaleiro ao passo que o segundo tem apenas um certificado por ter concluído a maratona londrina, Paul gosta de tofu e Chris não. Mas convida-o a se conhecerem e tomarem juntos uma cerveja.
Razão: ambos amaram a mesma mulher - e ao mesmo tempo. Como? Heather e Chris já tinham combinado o casamento, marcado a lua de mel (Seichelles e Zimbabué), pago o catering da boda e recebido prendas dos amigos. Seis dias antes do casamento - faz agora cinco anos -, Chris atende em casa um telefonema, onde o interlocutor pede para falar com Heather. Esta, no dia seguinte, inventa a necessidade de ir buscar a irmã ao aeroporto (vinda da Grécia, onde vivia), e desapareceu. Escreve na sua carta: "Foi a última vez que a vi". Isto porque, duas horas depois, ela telefona e diz que o casamento se não pode efectuar, que está tudo acabado. Afinal, continua a escrever Chris, ele, ao atender o telefonema, introduzira Paul a Heather.
Doze dias após Chris conhecer Heather, já estavam no Camboja a fazer um filme sobre minas pessoais, tema patrocinado pela antiga modelo. Quando o cineasta telefonou à família, esta ficou surpreendida. É que, após lerem a autobiografia da rapariga, concluiram que ela coleccionava mais namorados do que um fã de selos compra estampilhas.
Destruído pelo fim da relação, Chris, que até gostava de ouvir os Beatles, remeteu a colecção dos discos para o armário. Nunca mais os ouviu. Agora, sabendo do final da ligação de Heather com Paul, recuperou os discos: depois de ouvir Sergeant Pepper, passaria por Revolver, A Hard Day's Night e Help!. Títulos sugestivos, né?
Até parece uma tragédia grega. Se Eurípides existisse ainda, ele certamente reconstituiria a história e torná-la-ia numa espécie de Medeia. Claro que estou a exagerar, mas a história inglesa tem desígnio próximo da de Medeia. Não há violência e o relacionamento entre homens e mulheres é muito mais equilibrado do que na Grécia clássica. No seu tempo, Eurípides não teve muito reconhecimento. Mas, colocar uma mulher no centro da história, num tempo em que as mulheres - como os estrangeiros e os escravos - não tinham direito de cidadania, foi muito arriscado.
Medeia, vinda da Cólquida (actual Geórgia), apaixonou-se por Jesão, o grego comandante dos Argonautas, traindo o seu país ao segui-lo. Quando Jasão a repudia, mais aos filhos de ambos, para desposar a filha de Creonte, rei de Corinto, Medeia jura e cumpre uma terrível vingança.
Christopher Terrill - apesar do seu segundo nome despertar algum interesse quando lido em português - não terá, certamente, o mesmo espírito de vingança terrível. Quando muito, como ele diz na carta, espera ser ressarcido dos gastos feitos nas encomendas para o casamento gorado.
Peça: Medeia, de Eurípides, com tradução de Sophia de Mello Breyner Andresen, está em cena no Teatro D. Maria II. Tem uma encenação soberba de Fernanda Lapa, que também aparece na peça, num pequeno mas importante papel, ao lado da magnífica Manuela Freitas.
1 comentário:
Meu caro, cai no seu blogue por recomendaçao de um velho amigo e colega, de seu nome Luciano Canhanga.
Gostei do que vi, passarei a ser cliente. Também tenho um pequeno blogue, cujo endereço é htt://pchila.blogspot.com
Enviar um comentário