"Havia escrito, pouco antes, no âmbito da minha campanha pela reorganização da Armada, uma série de artigos no Diário de Lisboa, sem ter ainda conhecido pessoalmente Joaquim Manso. Enviara-lhe a prosa pelo correio, referindo-lhe apenas a minha condição de repórter de O Rebate. Resolvi-me a procurar Joaquim Manso. Diziam-me que era excelente pessoa. E, assim, em Maio de 1929, lá fui procurá-lo ao Diário de Lisboa. Recebeu-me por forma cativante. Disse-lhe o que pensava da agonia lenta de O Rebate e afirmei-lhe o meu desejo de ingressar no Diário de Lisboa. Ouviu, com interesse e carinho bem visíveis, este jovem então com 20 anos incompletos, que lhe aparecia sem uma carta ou um telefonema de recomendação de um amigo. No fim da nossa entrevista, disse-me:
"- Sim senhor. Venha no dia 1 de Junho. De entrada, terá quinhentos escudos por mês, e depois se verá...
"Simplesmente, nesses dias que faltavam até 1 de Junho - até mesmo durante outros que imediatamente se lhes seguissem - teria Joaquim Manso de sustentar uma dura peleja para cumprir a sua promessa: o Diário de Lisboa era, nessa época, uma casa fechada, onde todos se opunham a que entrasse mais alguém, fosse quem fosse. Aquilo era de quem lá estava - e para quem lá estava. De resto, que vinha fazer um rapazinho, ainda sem ter completado os 20 anos, para aquele aerópago onde já brilhavam «jornalistas feitos», nomes já consagrados? O que é facto é que, desde os outros dois principais associados de Joaquim Manso - Pedro Bordallo Pinheiro e Alfredo Vieira Pinto - até aos próprios redactores (excepto Norberto Lopes, que estava em viagem pela África) tudo fazia barreira contra a entrada de mais alguém. Era um «reduto» que se pretendia inexpugnável - o reduto da Rua Luz Soriano. O Diário de Lisboa - um jornal que estava então na moda - tinha apenas oito anos de existência".
A entrada de Maurício de Oliveira, vencidas as dificuldades iniciais, permitiu o posterior ingresso de jornalistas como Mário Neves e Tavares da Silva. Oliveira sairia do Diário de Lisboa mais de três décadas depois.
Leitura: Maurício de Oliveira (1973). Diário de um jornalista, 1926-1930. Lisboa: Empresa do Jornal do Comércio, pp. 161-162
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