Nos jornais de ontem, veio a notícia da saída de João Rodrigues de director editorial da Dom Quixote, a editora que mais autores portugueses tem publicado e é controlada pelo grupo espanhol Planeta, dirigida por João Paixão. João Rodrigues entrara para o lugar em Setembro de 2004, após uma longa polémica com a saída de Nelson de Matos, que dirigira a Dom Quixote durante 23 anos e agora está à frente dos livros da Ambar. João Rodrigues, segundo a notícia do Público - que fez parte da primeira equipa de Nelson de Matos, tendo ainda passado por editoras como a Cosmos, que dirigiu, a Asa e a Central Livros -, abandona o presente cargo, desiludido com o estado actual do mundo editorial. Em declaração enviada ao jornal, diz ir "fazer uma pausa para reflexão sobre as actuais condições de funcionamento do mercado dos livros".
Das palavras de João Rodrigues, não depreendo as razões principais do seu abandono. Mas não resisto a estabelecer a ligação a um artigo importante, assinado por António Guerreiro, "O obscuro negócio dos livros", editado no Expresso de 27 de Maio último (revista "Actual"). Pegando no título de livro recente, Troppo libri (muitos livros), António Guerreiro fala do "estado de obesidade editorial: ao aumento de novos títulos corresponde uma menor diversidade de géneros bibliográficos. Outra regra do sistema: aumenta o número de vendas (o número de exemplares vendidos), mas ele tende a concentrar-se nos mesmos títulos". E, logo depois, refere as estatísticas que apontam para um crescimento de leitores, embora elas não digam o que as pessoas lêem. Para António Guerreiro, o movimento editorial aponta para consumidores muito permeáveis ao marketing e à divulgação: o "leitor médio". E ele não culpabiliza de todo os editores, cuja autonomia de edição é uma ficção. Hoje, as redes livreiras, em situação de monopólio, vendem apenas os livros considerados vendáveis, dificultando a existência das pequenas editoras. Uma livraria é, hoje, um entreposto de novidades, com as mercadorias a circularem rapidamente.
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