Hoje, vou falar do Museu do Fado e da exposição ali patente, sobre a fadista Berta Cardoso (1911-1997).


Foi o irmão dela, Américo dos Santos, guitarrista amador, que a levou para a canção em 1927, tinha ela apenas 16 anos. Estreou-se no “Salão Artístico de Fados”, ao Parque Mayer. A passagem dos anos 1920 para a década seguinte, marcada pela ditadura e pela instauração da censura, assistiu igualmente ao aparecimento de publicações sobre o fado, dando conta das actividades de intérpretes, músicos, autores e compositores, com apontamentos biográficos, e com promoção de edições discográficas recentes e anúncios de espectáculos e digressões pelo país e fora dele.
Berta Cardoso seria capa de uma dessas revistas, logo em Outubro de 1930, a
Guitarra de Portugal. Aí se escreveu que “chegou, cantou e venceu. E venceu sem esforço e sem exageros porque possui todos os requisitos necessários para ser cantadeira e triunfar”, com um “conjunto de dons próprios, que a impuseram sem favoritismos”.
A fadista actuava em situações distintas, que iam do teatro de revista a operetas, dos cafés aos salões de dança. Logo em 1929, aos 18 anos, actuou no teatro Maria Vitória, na revista
Ricócó. Dois anos mais tarde, foi a Madrid gravar para a editora Odeon, acompanhada por Armandinho (Armando Augusto Freire) e Georgino de Sousa. Os seus êxitos “Lés a lés” e “Fado da Azenha” rapidamente se esgotaram.


Em 1932, pertencia ao elenco privativo do “Salão Jansen”, espaço prestigiado na rua António Maria Cardoso, em Lisboa. Nesse mesmo ano, foi ao Brasil (Rio de Janeiro, S. Paulo, Santos e outras cidades), no elenco da “Companhia Maria das Neves”, protagonizada por Beatriz Costa, e obteve substancial êxito.
A fadista, pioneira na internacionalização da música urbana lisboeta a par de Ercília Costa, voltaria a sair do país no ano seguinte, agora em direcção a África (Angola, Moçambique e Rodésia). O aparecimento de companhias fadistas profissionais, nessa época, facilitava a organização de espectáculos de grande peso.

Se a ligação ao teatro de revista se manteve ao longo dos anos, ela preferiu ser cantadeira, actuando no Café Luso, em 1936, e no Retiro da Severa, em 1937, ao qual pertencia como elemento privativo, isto é, com contrato de actuação. Em 1939, voltava ao Brasil, na companhia de outros nomes famosos do fado, como Alfredo Marceneiro. Antes, gravara actuações no teatro Variedades e no Retiro do Colete Encarnado, que seriam incluídas no filme de António Lopes Ribeiro,
Feitiço do império, estreado em 1940. Nas décadas de 1930 e 1940, Berta Cardoso continuou a gravar, agora para a etiqueta Valentim de Carvalho. E associou-se também a anúncios na imprensa.



Na altura, havia uma discussão em torno do fado e da sua importância social ou não. Luiz Moita publicava palestras sobre o fado, emitidas na Emissora Nacional (
O fado, canção de vencidos, original de 1936), a que respondeu outro autor, Victor Machado, com uma antologia de biografias (
Ídolos do fado, original de 1937). Obviamente, Berta Cardoso estava integrada neste grupo: “uma cantadeira de mérito inconfundível”.
Os anos seguintes continuariam a ser de grandes sucessos, e que passariam pela televisão, já nos finais da década de 1950. Mas a exposição patente no Museu do Fado esclarece melhor os seus passos, com recurso a cartazes, excertos de filmes e sons que ilustram a importância desta mulher no panorama do fado.
2 comentários:
Parabéns e obrigada por esta excelente reportagem.
Curioso como há uns anos atrás o nome de Berta Cardoso era praticamente desconhecido e ainda a senhora estava viva tirando alguns fiéis seguidos e ferverosos fãs poucos a conheciam e de um momento para o outro, Berta Cardoso está na ordem do dia e ainda bem!
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