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Foi o irmão dela, Américo dos Santos, guitarrista amador, que a levou para a canção em 1927, tinha ela apenas 16 anos. Estreou-se no “Salão Artístico de Fados”, ao Parque Mayer. A passagem dos anos 1920 para a década seguinte, marcada pela ditadura e pela instauração da censura, assistiu igualmente ao aparecimento de publicações sobre o fado, dando conta das actividades de intérpretes, músicos, autores e compositores, com apontamentos biográficos, e com promoção de edições discográficas recentes e anúncios de espectáculos e digressões pelo país e fora dele.
Berta Cardoso seria capa de uma dessas revistas, logo em Outubro de 1930, a Guitarra de Portugal. Aí se escreveu que “chegou, cantou e venceu. E venceu sem esforço e sem exageros porque possui todos os requisitos necessários para ser cantadeira e triunfar”, com um “conjunto de dons próprios, que a impuseram sem favoritismos”.
A fadista actuava em situações distintas, que iam do teatro de revista a operetas, dos cafés aos salões de dança. Logo em 1929, aos 18 anos, actuou no teatro Maria Vitória, na revista Ricócó. Dois anos mais tarde, foi a Madrid gravar para a editora Odeon, acompanhada por Armandinho (Armando Augusto Freire) e Georgino de Sousa. Os seus êxitos “Lés a lés” e “Fado da Azenha” rapidamente se esgotaram.
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Em 1932, pertencia ao elenco privativo do “Salão Jansen”, espaço prestigiado na rua António Maria Cardoso, em Lisboa. Nesse mesmo ano, foi ao Brasil (Rio de Janeiro, S. Paulo, Santos e outras cidades), no elenco da “Companhia Maria das Neves”, protagonizada por Beatriz Costa, e obteve substancial êxito.
A fadista, pioneira na internacionalização da música urbana lisboeta a par de Ercília Costa, voltaria a sair do país no ano seguinte, agora em direcção a África (Angola, Moçambique e Rodésia). O aparecimento de companhias fadistas profissionais, nessa época, facilitava a organização de espectáculos de grande peso.
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Os anos seguintes continuariam a ser de grandes sucessos, e que passariam pela televisão, já nos finais da década de 1950. Mas a exposição patente no Museu do Fado esclarece melhor os seus passos, com recurso a cartazes, excertos de filmes e sons que ilustram a importância desta mulher no panorama do fado.
Museu do Fado
Para além da magnífica exposição permanente, onde se observam a reconstrução de ambientes (sala onde se canta o fado, oficina de construção de guitarras), exposição de violas e guitarras, cartazes e discos, este espaço em Lisboa tem-se dedicado, desde 1998, a exposições temporárias, que desvendam melhor o fenómeno deste tipo de música urbana, hoje despojada do lastro ideológico mantido pelo antigo regime político. Assim, em 1998, decorreu a exposição sobre a imagem do fado na arte portuguesa, enquanto que, em 1999, uma exposição de xailes mostrou a exuberância estética dos adereços das cantadeiras.
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Em termos de actividades de investigação, catalogação, preservação e divulgação de património, o Museu estabeleceu um protocolo com a Universidade Nova de Lisboa para levantamento de pautas e acervo de discos (colaboração extensiva ao Museu do Teatro), para haver uma ideia mais precisa das existências físicas do fado. Ao mesmo tempo, procura fazer a edição de partituras e discografia do fado (identificadas 18 mil peças musicais, num arco histórico até 1950). Para este ano ainda, o Museu projecta editar, com prefácio de Rui Vieira Nery, os dois textos anteriormente referidos de Luiz Moita e Victor Machado.
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[o texto seguiu de muito perto o catálogo Berta Cardoso, que acompanha a exposição, comissariada por Sara Pereira, que também me concedeu uma entrevista, facilidades de registo de imagens no Museu e autorização de reprodução de imagens do catálogo, e a quem agradeço sinceramente. O espólio de Berta Cardoso foi cedido por Américo Cardoso Bacelar e Ofélia Pereira, que tem o sítio Berta Cardoso; Ofélia Pereira, que manteve um contacto muito próximo com a fadista ao longo de muitos anos, projecta editar em breve um livro sobre sua vida e obra]
[a primeira parte deste texto passará hoje por volta das 10:00, como última crónica de uma primeira série na Antena Miróbriga Rádio ou 102,7 MHz (região de Santiago de Cacém) ]
2 comentários:
Parabéns e obrigada por esta excelente reportagem.
Curioso como há uns anos atrás o nome de Berta Cardoso era praticamente desconhecido e ainda a senhora estava viva tirando alguns fiéis seguidos e ferverosos fãs poucos a conheciam e de um momento para o outro, Berta Cardoso está na ordem do dia e ainda bem!
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