segunda-feira, 10 de julho de 2006

CARS - O FILME DA PIXAR E DA DISNEY

Vinte anos atrás, a Walt Disney – da Branca de Neve e do Rato Mickey, para não nomear mais êxitos – teve a possibilidade de adquirir por cinco milhões os estúdios Pixar, que se haviam especializado em animação por computador. Não o fizeram mas entraram num acordo de co-produção e distribuição, que durou quinze anos. Nos últimos anos, após sucessos como Toy Story (1995 e 1999), À procura de Nemo (2003) e os Incríveis (2004), a Pixar pareceu maior que a Disney, ameaçada tecnologicamente. É que se aquela desenvolvia cada vez mais as potencialidades do computador na animação, esta permanecia fiel ao papel e ao lápis. A notícia de despedimentos dos desenhadores da Disney nos últimos anos teve um efeito de grande dramatismo: pelo desemprego de centenas de pessoas e pelo final de uma arte manual que alegrara várias gerações de apaixonados do cinema.

Mas a Disney acabou por comprar a Pixar, corria o mês de Janeiro deste ano, por 7,4 mil milhões de dólares (quase seis mil milhões de euros). E Cars (Carros em português) surge como a mais recente parceria dos dois estúdios. Carros é "filho" de John Lasseter, director criativo da Pixar e do filme, agora em acumulação com a direcção da Disney e da Walt Disney Imagineering, encarregado do desenho de novas atracções para os parques temáticos.

A história de Cars é, quanto a mim, muito humanizante. Carros antropomorfizados, isto é, com características pessoais como individualismo ou companheirismo, projectam-se à volta de Lightning McQueen, um jovem, veloz e ambicioso carro que quer ganhar o troféu de campeão. Ainda imaturo, não reconhecendo a importância do trabalho em equipa, é abandonado acidentalmente e surge em Radiator Spring, uma cidade esquecida da velha estrada 66, que liga os Estados Unidos de costa a costa. Aí, é obrigado a prestar serviço cívico, por destruição de bens.

Inicialmente antagonizado com a população restante da cidade, acaba por estabelecer laços de amizade. Ri com as brincadeiras do velho carro de reboque Redneck, descobre que o austero juiz que o condenou é Hudson Hornet, uma antiga glória do automobilismo e que conquistara a taça que McQueen quer agora ganhar, e apaixona-se por Sally, um Porsche 911 transformado em linhas sensuais e que chama "autocolante" ao vigoroso carro de corrida. A estrada é asfaltada e as lojas abandonadas recuperam a cor, os néons e o movimento. Quando McQueen é descoberto pelos media, helicópteros e automóveis invadem Radiator Spring e voltam a pôr a cidade no mapa. E a equipa de McQueen é feita pelos novos amigos, que o apoiam numa fantástica corrida na Califórnia.

Apesar da dificuldade de transmitir uma mensagem, pois se trata de um filme de animação em que todos os desenhos são carros, a entreajuda e justiça, o ideal americano dos grandes espaços da natureza e o optimismo na resolução dos problemas são elementos visíveis na história.

Além de John Lasseter, como o principal autor do filme, imaginado após uma viagem de caravana pelo interior dos Estados Unidos ao longo de dois meses, outra figura da Pixar é Steve Jobs, co-fundador da Apple Computer (da Macintosh) em 1976 e agora dono de 50% das acções da Pixar, que ajudou a fundar em 1986, e o maior accionista individual da Disney, com 7% das acções.

O acordo de compra prevê a produção de duas longas-metragens por ano. Neste momento, a média da Pixar é um filme em cada 18 meses. O estúdio da Pixar, em Emeryville, a norte de S. Francisco, deve ser agora um espaço frenético de imaginação. Claro que os responsáveis do estúdio dispõem de espaços igualmente criativos, decorados a seu gosto. Podem encontrar-se escritórios com a forma de cabanas de madeira ou castelos medievais, com piscinas e mesas de pingue-pongue e transportes que incluem trotinetas.

E espera-se – facto curioso para quem fez da animação por computador o principal recurso – a recuperação das pranchetas tradicionais. É que o computador é uma ferramenta como o lápis e o papel.

[apoiei-me em textos publicados nos jornais El País, de 11 de Junho, e Diário de Notícias, de 30 de Junho, aliás visíveis no pequeno vídeo que acompanha esta mensagem]



[texto da crónica que passará hoje por volta das 10:00, na Antena Miróbriga Rádio ou 102,7 MHz (região de Santiago de Cacém)]

1 comentário:

Gabriel Silva disse...

Caro Rogério,
O valor de «compra» (não existiu cash mas troca de acções) não foi de 7,4 milhões, mas sim 7,4 MIL milhões.....

Aliás em termos empresariais pode-se questionar quem comprou quem, uma vez que os anteriores sócios da Pixar, nomeadamente Seteve Jobs se tornou o maior accionsita inividul da Disney, invertendo a lógica de quem compra passa a mandar, sendo que no caso presente, o comprado passou efectivamente mandar mais do que o comprador.