O ARRASTÃO VISTO POR CLARA ALMEIDA SANTOS
No ano passado, uma das notícias mais impressionantes da realidade nacional foi a do arrastão de Carcavelos [ver a minha reflexão, datada de 10 de Julho de 2005] (o arrastão ocorrera a 10 de Junho). Em que consistira? As notícias falavam de 500 indivíduos jovens e de cor, que tinham espalhado o terror na praia de Carcavelos, roubando tudo o que puderam.
Agora, na revista do ACIME (Alto Comissariado para a Imigração e Minorias Étnicas), do presente mês, Clara Almeida Santos, investigadora da Universidade de Coimbra, reflecte sobre o acontecimento. Segundo ela, tratou-se de "um momento muito importante na história da relação dos media com o tema das migrações e, sobretudo, das minorias étnicas. Os vários estudos sobre o retrato da imigração veiculado pelos media em Portugal têm dado conta de uma progressiva consciencialização por parte dos jornalistas das sensibilidades em jogo, acompanhada de um melhor tratamento da problemática. Problemática no sentido em que a palavra se opõe a acontecimento". E anota, mais à frente: "No caso do arrastão, juntam-se aos constrangimentos habituais o facto de o episódio ter acontecido a uma sexta-feira, feriado, estando pouca gente nas redacções, quase à hora do fecho da edição do dia seguinte, sem grande margem para confirmações".
Para Clara Almeida Santos, "Curiosamente, um ano depois, deu-se uma inversão do objecto de debate: interessam menos os supostos roubos e agressões levados a cabo por um número indeterminado de jovens do que o tratamento dado pelos media, esse sim no epicentro de todas as discussões". É que uma das questões mais importantes foi a ideia de pânico moral, em que, através da repetição de uma mentira, a qual não foi desmentida, aquela acabaria por se tornar verdade.
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