PIPPA NORRIS – TRÊS IDEIAS A PARTIR DOS SEUS TEXTOS
1) Norris escreve sobre o modo como os processos políticos são cobertos pelos media americanos, em que as notícias tendem a ser sensacionalistas, tendenciosas e negativas.
Mas nem sempre foi assim. Para compreender as mudanças e como isso afecta a comunicação pública, ela descreve três estádios distintos. No estádio pré-moderno, as campanhas eleitorais baseavam-se no contacto presencial, com notícias publicadas nos jornais e na rádio, com organizações locais e dispersas, orientadas por responsáveis políticos locais e com voluntários que contribuíam em tempo e trabalho em part-time. No estádio moderno, as notícias que os partidos procuram influenciar são as da televisão (com discursos do candidato, congressos partidários e eleições), a partir de uma coordenação nacional de campanha estratégica e de consultores profissionais remunerados, especializados em comunicação, marketing, sondagens e gestão de campanha.
Na última década, há a transição para a campanha pós-moderna, com fragmentação de audiências e media, mudança da televisão para fontes mais diversificadas como os fóruns na rádio, notícias nos canais locais de televisão e nos novos media como a internet, tabloidização das notícias devido a fortes pressões comerciais, e mudança para a campanha permanente apoiada em sondagens e grupos de discussão (focus groups).
2) Norris distingue formas variadas de activismo político ao longo das últimas décadas, que acompanham as mudanças de acesso aos media. Um primeiro momento é o do activismo político tradicional, de que são exemplos a participação numa votação, a militância num partido e a sindicalização, formas de participação burocratizada e mais direccionada para as elites.
O segundo período, já mais perto do final do século XX, experimentou uma transformação nas acções do activismo político (organizações colectivas), repertórios (acções usadas habitualmente para expressão política) e alvos (actores políticos que participam e procuram influenciar), com activismo político dentro de organizações voluntárias, associações de bairro e novos movimentos sociais (movimentos de segunda geração nas mulheres, movimentos culturais preocupados com o ambiente, nuclear, anti-globalização, paz, direitos humanos e resolução de conflitos).
As teorias dos novos movimentos sociais sugerem que estas organizações diferem das anteriores formas de organização social, com redes indefinidas, estruturas descentralizadas, pertença devido mais a questões partilhadas pelos seus membros e menos em termos de organizações com quotas. Os movimentos sociais são mais fortes em sociedades pós-industriais.
O terceiro momento, nascido dentro do anterior e com alguma consonância temporal, é o do activismo de protesto, assente em manifestações, boicotes e recolha de assinaturas.
3) A par da discussão sobre a decadência dos canais do activismo eleitoral, partidário e cívico, fala-se de teorias da modernização, em que tendências sociais comuns – como a longevidade, o crescimento do sector de serviços, o aumento de oportunidades educacionais – conduzem a um novo estilo de políticas de cidadania nas democracias ocidentais. Há mais participação pública activa em processos tais como novos movimentos sociais e grupos de protesto, enquanto enfraquecem as lealdades de deferência e apoio a organizações e autoridades hierárquicas tradicionais tais como os partidos e os grupos tradicionais de pressão.
Por exemplo, Ronald Inglehart observa as sociedades pós-industriais e a revolução de valores culturais, em que a geração mais jovem, constituída por cidadãos com bom nível educacional, tem menos interesse nos temas de economia em termos de esquerda e direita e apresenta um maior interesse na agenda pós-materialista, nos temas de qualidade de vida tais como o ambiente, igualdade de género e direitos humanos. Inglehart sugere que o apoio a organizações hierárquicas e burocráticas tradicionais está a diminuir, mas que a geração mais nova em sociedades ricas torna-se activa na política através de novos movimentos sociais e redes transnacionais, com assinaturas em petições e participação em boicotes. Ou seja, os públicos ocidentais não se tornaram apáticos mas, nas duas últimas décadas, envolveram-se em formas alternativas de participação política.
De modo idêntico ao referido no ponto 2, há três perspectivas principais, a primeira indicando a erosão de tradicionais tendências de envolvimento político, incluindo resultados eleitorais, trabalho partidário e activismo cívico. A segunda perspectiva indica que os processos de longo prazo em termos de modernização social e desenvolvimento humano (níveis mais elevados de literacia, educação e riqueza) são motores de mudanças, condicionadas pelas relações entre Estado, entidades mobilizadoras e diferenças em recursos e motivacionais entre grupos e indivíduos. A última perspectiva, a mais difícil de provar, aponta para uma revitalização da política nas últimas décadas, através da diversificação de agências (organizações colectivas que estruturam a actividade política), repertórios (acções normalmente como expressão política) e alvos (actores políticos que os participantes procuram influenciar). O aparecimento de políticas de protesto, novos movimentos sociais e activismo através da internet exemplifica estas mudanças.
Leituras: Pippa Norris (ed.) (1997). Politics and the press. Boulder, Colorado: Lynne Rienner Publishers
Ronald Inglehart e Pippa Norris (2004). Rising tide. Gender equality and cultural change around the world. Cambridge, Nova Iorque, Melbourne, Madrid e Cape Town: Cambridge University Press
Pippa Norris (2002). Democratic phoenix. Reinventing political activism. Cambridge, Nova Iorque, Melbourne, Madrid e Cape Town: Cambridge University Press
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