quarta-feira, 16 de agosto de 2006

TABLOIDIZAÇÃO DOS MEDIA (II)

[continuação da mensagem de ontem]

Gripsurd propôs distinções dentro do terreno do jornalismo popular. Muitas formas e conteúdos não tablóides são populares no sentido que têm grande popularidade, quer na imprensa quer no audiovisual. A aproximação "tablóide" e "popular" pode distorcer a realidade. Por isso, não se pode ver a tabloidização apenas como processo que altera o equilíbrio entre jornalismo de "qualidade" e "popular", para usar a dicotomia inglesa.

Muitos dos media populares são, simultaneamente, sérios e educativos. O muito referido programa da BBC, Nationwide, não era "popular" oposto a "qualidade" - era jornalismo popular de qualidade [como dizemos do Jornal de Notícias e do Correio da Manhã e, por vezes, do Diário de Notícias]. O mesmo é válido para a maioria do jornalismo apresentado pelos canais televisivos europeus com obrigação de serviço público. Na televisão escandinava, há a tradição de conjugar entretenimento com material informativo mais ou menos relevante em programas de variedades orientados para a família - tradição mais antiga que o termo infotainment. Os tablóides populares escandinavos contêm uma cobertura séria de temas importantes. O termo cultura média significa a existência, nos jornais populares não tablóides, de uma audiência ou leitores de elementos mistos.

Claro que convém distinguir tablóide e lixo. O significado de "tv tablóide" é diferente de "tv lixo"; esta inclui programas de luta romana, reality tv, strip-tease e outros géneros pornográficos, que têm em comum o grau de choque estético e de sensacionalismo e que provocam, na audiência, pontapés, gargalhadas e tudo o que aumente os níveis de adrenalina. O tablóide pode ser jornalismo popular útil e relevante, o lixo é entretenimento brutal com ausência de ética.

David Paletz (The media in American politics, 1998) descreve quatro tipos de "fornecedores" de notícias: elite, prestígio, popular e tablóide, como se fossem um continuum de formas e conteúdos jornalísticos. A imprensa de elite destaca o governo e a política e as notícias incluem background e explicações. É o caso de jornais como o New York Times e o Washington Post. A Newsweek e a Time fariam parte dos media de prestígio, apesar do autor não fazer grande distinção entre media de elite e de prestígio, a não ser a dimensão dos assuntos e o uso de imagens. Na categoria popular, os "fornecedores" realçam o drama, acção, entretenimento, simplicidade, brevidade, imediatez, personalização. Há gráficos, cor abundante, histórias breves e atenção excessiva às celebridades. O tablóide enfatiza o crime sexual, as celebridades e o escândalo.

É evidente que o uso de gráficos, imagens, cor e layout apelativo não indicam, por si só, que o medium é tablóide como a dimensão da peça na imprensa, rádio ou televisão garante qualidade. Os estudos sobre jornalismo "tablóide" ou popular destacam a repetição ou redundância de histórias e relatos dentro do campo do jornalismo. Tomam como certo que as histórias são curtas, básicas e de um certo estilo.

Gripsurd acha que sensacionalismo e personalização são duas características definidoras do jornalismo popular. Por vezes, o jornalismo popular transporta um certo desrespeito pelas autoridades, o que pode produzir desafios consideráveis para os que têm posições poderosas, em contraste com as formas respeitosas dos media de serviço público.

Os media jornalísticos contribuem, em princípio, para o envolvimento social e político de todos os cidadãos. As diferentes variedades do jornalismo popular, com a excepção das formas de lixo, podem contribuir para isso. Se a simplificação e exemplificação cuidada é parte central de qualquer tipo de jornalismo competente, as formas sensacionalistas e personalizadas associadas aos tablóides e o jornalismo melodramático não se adequam a um bom contexto político, social e cultural. Contudo, um grau de "tabloidização" nem sempre é uma coisa má.

Leitura: Gripsurd, Jostein (2000). "Tabloidization, popular journalism, and democracy". In Colin Sparks e John Tulloch (eds.) Tabloid tales. Global debates over media standards. Lanham, Boulder, Nova Iorque e Oxford: Rowman & Littlefield, pp. 285-299

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