Como fiz referência em mensagens anteriores, realizou-se entre ontem e hoje o 3º Encontro Nacional de Blogues, desta feita a cargo da Universidade do Porto.
Assim, se o 1º encontro (Braga, 2003) deu conta do fenómeno blogosfera, entendendo-se que o jornalismo (nas suas formas clássicas) estava fortemente ameaçado, no 2º encontro (Covilhã, 2005) a visão recuava para uma complementaridade entre blogosfera e jornalismo. Curiosamente, estava a escapar-nos o crescimento dos jornais gratuitos e o fenómeno do que se apelidou de jornalismo-cidadão. Nestes dois dias no Porto, houve uma espécie de rescaldo dessas posições (de que a comunicação de Manuel Pinto, da Universidade do Minho, em forma de posts, foi o ponto alto), enfocando mais a atenção para os blogues como ferramenta educativa, já anunciado no encontro anterior. Mas voltou a pôr-se a tónica na tecnologização e nas facilidades das ferramentas da web 2.0, exercitada na excelente comunicação de José Luis Orihuela (Universidade de Navarra, aliás complementada no workshop dado hoje de manhã) (segundo e terceiro vídeos) [o quarto vídeo mostra Enrique Dans, do Instituto de Empresa espanhol].
A comunicação de Manuel Pinto (primeiro vídeo) tocou diversos aspectos, tais como a interrogação da blogosfera passar de laboratório para a sociedade, a questão do jornalismo versus jornalismo-cidadão, com a possível passagem da enunciação jornalística de cima para baixo, com poder de atribuir agenda, para um jornalismo em que o cidadão participa, o discurso messiânico dos que acreditam na tecnologia como transformadora do mundo de per si, o surgimento das TIC e a democratização que elas representaram, e a transferência do poder da informação dos proprietários para os cidadãos (ou melhor para as audiências), o que leva a pensar no factor tecnológico. Reflexão que mostra um aggiornamiento relativamente ao enunciado eufórico de 2003, em que a blogosfera era uma promessa de conhecimento distribuído a toda a gente (e então sentido assim por todos nós), as palavras de Manuel Pinto ilustram também pragmatismo, pois certamente a blogosfera continuará a ser um espaço público reservado a uns poucos.
Contudo, não deixou uma mensagem pessimista, longe disso. O que ficou das suas palavras foi a consciência que o jornalismo de hoje precisa de mudar, seguindo as pistas lançadas pela blogosfera. Isto porque muitas das críticas mais corajosas e pertinentes se situam na blogosfera, no esforço individual de muitos indivíduos. A crítica recentíssima ao alinhamento dos noticiários televisivos da RTP1 ilustra tal posição.
Por seu lado, de Orihuela ficaram-me as ideias de blogue como memória extensiva, conceito muito rico, e a importância dos agregadores sociais e dos organizadores de agenda. Para o professor de Pamplona, a web 2.0, e logo os blogues, permite três coisas igualmente importantes: publicar, partilhar (através dos tags) e reutilizar (optimizar a nossa matéria com a dos outros, como se fôssemos dj's da informação).
Sobre a importância dos blogues na educação, retive algumas expressões significativas, oriundas de professoras dos vários níveis de ensino - desenvolvimento de hábitos de auto-estudo e de portfólio de recursos (Paula Peres) e experimentação favorável do uso de podcasting (e blogues) na partilha de conhecimentos (Adelina Moura), numa época em que as crianças e os adolescentes usam muito a linguagem alfakapa do SMS (Gina Souto).
No final do dia de hoje, ficou decidido avançar-se para o 4º encontro, a realizar no próximo ano por uma outra instituição universitária e a confirmar em breve.
1 comentário:
Bom dia, Caro Rogério
Dou-me por feliz por ter encontrado o seu blogue (aqui ando sempre na exitação, blog, blogue?).
Pelo que pude observar, aqui poderei tentar assimilar algumas ideias sobre a evolução deste fenómeno dos blogues, da sua complementaridade com o jornalismo profissional e com todas as formas que poderemos encontrar para comunicarmos. Sem comunicação não há vida possível, daí nós andarmos talvez um tanto descontroladamente, a tentar "falar" e ser "ouvidos", mesmo sobre os temas mais inverosímeis.
Prabéns pelo blogue. Decerto que os seus alunos aqui virão beber bons tragos de pistas para os orientar nos seus estudos.
Eu também passarei a frequentar estas aulas, com frequência. Nem sempre assinarei o ponto mas cá me farei presente.
Felicidades.
António Nunes
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