ESTÓRIAS DE FILMES
Nos últimos vinte dias vi seis filmes (Voltar, de Pedro Almodóvar, 2006, com Penélope Cruz, Carmen Maura, Lola Dueñas e Blanca Portillo; Paraíso agora, de Hany Abu-Assad, 2005, com Lubna Azaabal, Kais Nashif e Ali Suliman; Sinais de fogo, de Luís Filipe Rocha, 1995, com Diogo Infante, Ruth Gabriel, Rogério Samora, Caroline Berg e Glicínia Quartin; World Trade Center, de Oliver Stone, 2006, com Nicolas Cage, Maria Bello e Armando Riesco; 98 octanas, de Fernando Lopes, 2006, com Rogério Samora, Carla Chambel e Márcia Breia; A dália negra, de Brian de Palma, 2006, com Josh Hartnett, Scarlett Johansonn, Hilary Swank e Mia Kirshner).
Antes que a memória se desvaneça relativamente às estórias dos filmes e às suas personagens, deixo aqui umas pequenas notas. A primeira para realçar o papel das mulheres (todas no filme de Almodóvar, Lubna Azaabal no filme de Abu-Assad, Márcia Breia no filme de Lopes), com personagens decididas, centrais, num jogo de emancipação e de sabedoria. Em segundo lugar, reparo para a reconstituição histórica, em Sinais de fogo e em A dália negra, este último com outro gabarito dado o maior volume financeiro na produção (da Figueira da Foz à Los Angeles, ambas nos anos de 1940) , descrevendo situações explosivas e com enredos complexos. Depois, a oposição entre ideais variados - a morte por suicídio dos palestinianos confinados a um pedaço de terra vigiado em Paraíso agora, em busca da felicidade eterna ou para limpar o nome da família, versus o crescer de uma cidade como Los Angeles em que todos ambicionavam poder, mas apenas existia corrupção, violência e demência colectiva. Em ambos, a cidade é o centro de tudo, da paixão como da entrega.
Em quarto lugar, a fotografia, destacando-se 98 octanas, por acaso a estória mais lenta, apesar de mostrar planos consequentes de velocidade na estrada: a árvore do plano final, o "baptizado" da rapariga no meio de um lago, o interior da casa da avó. Mas também as sequências iniciais do filme de Almodóvar (as mulheres limpando as campas do cemitério, enquanto um poderoso vento de leste se levanta). Do filme de Stone ficou a marca da oposição da estória principal (os dois feridos no derrube de uma das torres de Nova Iorque, que tentam estimular-se um ao outro no sofrimento) face à estória dos familiares em busca daqueles (cujos laços de solidariedade eram necessariamente outros).
Quanto a espectadores (e descontando o filme de Luís Filipe Rocha, que passou durante o simpósio sobre a guerra civil de Espanha), A dália negra e Paraíso agora foram aqueles em que vi a sala mais cheia, passando o primeiro numa sala mais popular (Londres) e o outro numa sala mais "intelectual" (King). Claro que a estrela (Scarlett Johansonn) e o tema (Palestina) atrairam mais os espectadores.
Agora, vou deixar "marinar" os filmes (dissolvendo-se na memória, que me parece cada vez mais pequena). O que lembrarei daqui a algum tempo, quando mais filmes ocuparem a minha atenção? Talvez uma frase, um olhar, um plano, um título. Ou nem isso. Penso que, por se tratar de ficção e ainda por cima composta de imagens brilhantes que passam num ecrã, o desvanecimento é mais rápido. A cintilação é momentânea, pois basta uma brisa à saída da sala de cinema ou um buzina de automóvel para regressarmos à realidade e esquecermos as tramas e as obsessões dos autores dos filmes.
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