Na edição de ontem do Diário de Notícias, Leonor Figueiredo escreveu sobre o presumível desaparecimento do Museu de Arte Popular, em Belém, mesmo ao lado do Padrão dos Descobrimentos e, do outro lado da linha ferroviária, do Centro Cultural de Belém. Em troca, a criação do Museu de Língua Portuguesa.
O blogueiro acha uma má troca. Pelas razões apontadas pela jornalista na sua peça. Primeiro, porque se trata de um espólio de 25 mil peças, algumas do século XIX e todas as outras do século XX, que estão num só lugar. A sua dispersão por vários pontos do país, como aponta a notícia, é uma má estratégia - para quem quer ver e para quem quer estudar.
Depois, porque se trata de um edifício construído, e o único que ainda existe, para a Exposição do Mundo Português de 1940. Ideia de António Ferro e inaugurado em 1948, foi projectado pelo arquitecto Jorge Segurado. Um dos elementos de maior impacto, as pinturas murais que representam as várias regiões do País, apesar da promessa de restauração, nada indica que fiquem sempre visíveis para o público. O espaço, a colecção, a memória da razão da sua edificação, ficarão esquecidos se o museu mudar de função. Embora sem poder estabelecer tal comparação, por exagerada, o desaparecimento do Museu de Arte Popular seria como se os talibãs voltassem a destruir as estátuas dos budas (Afeganistão).
Do espólio, há cestaria, bordados, cerâmica, alfaias agrícolas e instrumentos musicais - quase tudo materiais perecíveis no tempo. É certo que o museu assenta num espaço pouco propício à conservação, dada a humidade e enchentes plausíveis (da última vez que lá estive, e já vão muitos os anos que o museu está fechado, a água proveniente do rio, em maré cheia, impediu que levasse a visita até ao fim). Mas o problema manter-se-á, se não forem feitas obras adequadas, no futuro museu.
Por isso, eu subscrevi o abaixo-assinado UM ACTO DE BARBÁRIE - ENCERRAMENTO DO MUSEU DE ARTE POPULAR e peço a todos os leitores do blogue o favor de fazerem o mesmo. Eu acredito na competência intelectual da ministra da Cultura e na sua capacidade de voltar atrás quanto à afirmação que aparece citada no Diário de Notícias de ontem: "Não faz sentido que aquele museu esteja hoje ali". É que, enquanto cidadão, eu penso o contrário - faz todo o sentido aquele museu estar ali!
Observação: dois anos atrás, o blogueiro tomou uma posição relativamente ao Museu da Rádio. Pelo que sei, a RTP não estará a tratar convenientemente o espólio no campo da rádio, pois é escasso o espaço a albergar esse espólio no novo edifício. Isto sem se saber para onde vai o espólio excedente. Se isso acontecer, será uma atitude incrível e leviana, num país de recursos sempre escassos - e que, neste campo, parece estar bem apetrechado.
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