Os jornais de hoje dão muito destaque à deliberação da ERC, de que eu falei aqui ontem. O Diário de Notícias (texto de Ana Pago) indica os principais pontos da decisão da ERC e tem pequenos depoimentos dos principais visados no problema: o deputado do PSD Agostinho Branquinho, o crítico de televisão Eduardo Cintra Torres e o director de programas da RTP Luís Marinho (este na posição de alvo de críticas daqueles).
Já o Público, jornal onde escreve Cintra Torres e alvo da deliberação da ERC, toma uma posição muito dura. Primeiro pela deslocação da informação da presumível página da secção "Media", onde deveria constar pelo tema, para a secção "Nacional", relevando o maior destaque ao assunto. Assinado por Maria José Oliveira, tem um estatuto jornalístico de isenção e distanciamento, seguindo as linhas principais do texto da ERC e comentando alguns desses pontos. Essa importância associa-se à assunção do editorial, área nobre do jornal, e assinada pelo próprio director, José Manuel Fernandes, sobre igual objecto. Só o título e pós-título possuem um valor intrínseco de grande violência: "A infâmia da censura" e "A ERC quer que o Público censure opiniões. Para o conseguir, terá de passar por cima de mim".
Todo o editorial segue esta linha. Embora José Manuel Fernandes tenha discordado do modo como Cintra Torres escreveu - "Disse-lho" -, toda a argumentação vai no sentido de considerar a ERC como uma espécie de antecâmara do "exame prévio" do Estado Novo.
Confesso que este editorial me deixa ficar muito preocupado quanto ao evoluir das posições, em especial quando o director do jornal chama a atenção para a posição assumida por um dos conselheiros da ERC, que votou contra a deliberação, por entender não ser a ERC um "tribunal de jornalistas". Eu sei que a ERC tem pessoas de muito bom senso e de grande ponderação perante situações políticas complexas, pelo que se espera a perduração de serenidade e boa argumentação. Tomar decisões difíceis implica também muita qualidade nessa tomada, mas acusações de censura acabam por ser muito perturbadoras.
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