Um dos textos mais interessantes publicados no recente número da revista do Clube dos Jornalistas, Jornalismo & Jornalistas, pertence a José Manuel Nobre-Correia, professor na Universidade de Bruxelas, que escreve sobre a imprensa diária portuguesa.
Para ele, Portugal tem poucos hábitos de leitura de jornais. No nosso país, as vendas de jornais são inferiores a uma só região de Espanha, a Galiza, com um quarto da nossa população mas em que o principal jornal vende tanto como o nosso principal jornal. Não existe informação de proximidade, a que se acrescenta uma presença desmedida de "colunismo". Este inclui jornalistas do próprio meio de comunicação mas também muitos colunistas oriundos da política, universitários e "gente na berra". Nobre-Correia indica mesmo que nos nossos jornais há um peso muito grande de colunas, editoriais, crónicas e artigos de opinião, com olhares subjectivos sobre a realidade e desprezo pela "pura informação factual e serena".
Menciona ainda a prática de títulos estrondosos e a inexistência de identidade, de afirmação de diferenças em relação à concorrência: "Tem-se muitas vezes a sensação que os diários portugueses, nomeadamente «de referência», são intercambiáveis", impedindo a identificação de um leitor com o "seu" jornal. Para o professor de Bruxelas, um leitor espera do seu jornal uma tomada de posição, uma "personalidade específica".
Nobre-Correia critica ainda a concepção económica e editorial dos diários portugueses. Isto porque esta ainda não entendeu o impacto da internet e dos jornais gratuitos e precisa de redescobrir o interior do país, dada a vitalidade nascente de imprensa periódica regional e local.
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