sábado, 10 de fevereiro de 2007

CCB


Em entrevista à TSF, António Mega Ferreira diz "ter ficado surpreendido com a decisão do Governo de oferecer todo o centro de exposições à Colecção Berardo e ainda com o corte no orçamento do CCB" (retirei a informação daqui). E admitiu que "provavelmente não teria aceite o convite para presidir o Centro Cultural de Belém (CCB) se soubesse o que sabe hoje".

Isto mostra o alto nível de ruptura com a ministra da Cultura, caucionadora da colecção Berardo. E revela publicamente o seu descontentamento, possivelmente alargado desde a recente decisão de cancelar a Festa da Música. Lembro-me do carinho com que ele falava, há um ano, da Festa, que estava entre os objectivos a prosseguir enquanto presidente do CCB. A alteração brusca, recentemente ocorrida, terá a ver com o corte orçamental [aqui, no blogue, critiquei Mega Ferreira, mas haverá, certamente, outras razões para além do simples anular da iniciativa].

Tenho de Mega Ferreira uma muito boa imagem. Mas esta confissão encurta a sua margem de manobra. Não sei por quanto tempo mais aguentará até demitir-se (ou ser demitido). A acontecer isso, será um abalo grande.

Na minha leitura (sou mero leitor de notícias), a ministra da Cultura não se sai bem deste retrato. Basta ler as recentes notícias do empresário e comendador Joe Berardo acerca do preço avaliado da sua colecção. Durante um conjunto de dias, mandou recados ao Governo através dos media (achou que a leiloeira fez um valor da colecção abaixo do justo), mas não li nada da resposta do Governo. Berardo está numa excelente posição - comanda o jogo na totalidade. A ministra parece ter perdido o controlo. Pelo que pressinto estar o poder político encurralado nesta situação. Mega Ferreira é uma voz da consciência, com credibilidade, mas pode não ter força para manter um braço de ferro com a ministra e o empresário, estes dois com objectivos bem distintos.

Curiosamente, a semana passada, o Expresso "lançou-o" como candidato PS à liderança da Câmara de Lisboa, caso a presidência desta fosse dissolvida. O veneno habitual do semanário vê-se pela forma cândida como ontem falava de outro candidato putativo, António José Seguro, sem uma palavra sobre o candidato da semana anterior. "Queimar" candidatos é o que se costuma dizer quando se lançam nomes sem os próprios alguma vez terem expresso tal vontade. Sabendo do mal-estar no CCB, é fácil lançar o nome de Mega Ferreira. O desmentido dele, logo depois da notícia, não tranquiliza muito. Basta lembrar postura semelhante antes de ter aceite o lugar de líder do CCB.

Tendo sido jornalista, Mega Ferreira parece revelar falhas na relação com os media. Ao invés de Joe Berardo, que aparece nas notícias sempre pela positiva, mesmo que os seus objectivos sejam apenas financeiros e comerciais e não de serviço público.

Por mim, apesar desse problema, nomeava Mega Ferreira como ministro da Cultura. Para bem da colecção Berardo.

1 comentário:

Anónimo disse...

Já no discurso de tomada de posse se notou algum distanciamento de Mega Ferreira em relação a Isabel Pires de Lima.
A análise que faz, estimado Rogério, parece-me muito perspicaz não fora em sentir que, desde o início, a intenção de Mega Ferreira é a de chegar a Ministro da Cultura.
Qunato à colecção Berardo, a verdade, se relermos o processo, é que a Ministra tentou protelar uma decisão o mais que pode e que a decisão é bem capaz de não ter sido sua...
Mas isto na política nem sempre é o que parece...
Abraço