Na sequência do texto da semana passada, José Pacheco Pereira escreve sobre "Pensar os jornais" (Público, pág. 37). Retiro o destaque: "O primeiro objectivo de um jornal é informar, e um jornal em papel é um meio mais pobre para informar do que um jornal em linha. Esta é que é a chave da crise da imprensa escrita, a impossibilidade de incorporar o hipertexto".
Num dado momento do texto, Pacheco Pereira entende que o jornal electrónico até agora foi mais um jornal de plástico do que um verdadeiro jornal electrónico, o que pressupõe uma evolução entre o papel e o electrónico. Entendo eu que isso significa evolução (ou revolução) no conteúdo e não na forma, pois a forma (electrónica) já lá está. Mas, ao mesmo tempo, o conteúdo já existe: o hipertexto.
Ao mesmo tempo, na coluna de João Miguel Tavares do Diário de Notícias de hoje, o tema é o mesmo. Título: Jornais: espécie em vias de extinção. Em linguagem irónica, aborda três questões: 1) mudanças de directores e estruturas gráficas, 2) aproveitamento de histórias "popularuchas" mas escritas com critérios de qualidade, 3) parasitagem das notícias de jornais pelos noticiários das televisões. Parece-me bem analisado, mas há uma espécie de ressentimento quanto à televisão. Melhor: quanto aos espectadores que deixaram a leitura dos jornais.
Igualmente irónica é a banda desenhada de José Carlos Fernandes no mesmo Diário de Notícias. Pegando numa situação clássica - a venda de castanhas envolvidas em papel de jornal, o cartunista põe na boca da vendedeira das castanhas: "Quentes e boas! E embrulhadas em jornais de prestígio"!
No final: há um repensar contínuo da imprensa nos dias de hoje. Claro que as estórias do Inimigo Público de hoje (espaço de sátira) sobre a imprensa e o Diário de Notícias - sobre o patrão Joaquim Oliveira e os blogues dos jornalistas do jornal - devem ler-se com um sorriso nos lábios. Mas quem escreveu as estórias toca em verdades sem sofisma.
2 comentários:
A brincar se dizem as verdades. No DN, os directores passavam a vida nas televisões. E alguns jornalistas nos blogues. Os primeiros já foram chamados à pedra. Para quando os segundos? Afinal, as empresas privadas não devem servir de escritórios públicos...
Olá Rogério Santos!
Desde muito novo que comecei a ler jornais, ainda em criança coleccionava as páginas de banda desenhada, com as famosas tiras dos “Peanuts” e o “Quadradinhos” na Capital; depois, na pre- adolescência, quando comecei a ler os jornais (um familiar tinha uma tabacaria) o meu interesse ia para os artigos de opinião e suplementos temáticos. Descobri então essa grande revista chamada Vida Mundial e os suplementos do Diário Popular à quinta feira sobre literatura e “A Mosca” no Diário de Lisboa e a revista do Expresso, primeiro em formato de jornal e depois quando surgiu mesmo como revista (período VJS). E ainda hoje, aos 48 anos, gosto como diz a sua campanha de ler jornais em papel, ler livros (apenas lamento que os editores portugueses não apostem no formato “paperback”). Isto tudo vem a propósito dos artigos publicados no “Público” e “DN”. Li apenas o do João Miguel Tavares, Mas gostaria de dizer que na minha opinião o grande erro dos jornais portugueses é olharem mais para o número de exemplares vendidos e não para a qualidade da prosa publicada. Cada vez temos menos verdadeiros artigos de opinião, depois os textos publicados não são aprofundados e, por outro lado, os jornais estão cada vez mais a seguir o caminho traçado pelos jornais de distribuição gratuita ou seja notícia curta de consumo rápido, o ler e deitar fora. Os jornais de referência não podem esquecer-se do seu público e é um erro enorme aumentarem as tiragens escrevendo em busca de um público mais alargado.
Ainda encontro artigos de opinião do meu agrado e suplementos culturais que leio e guardo (Actual e 6ª), enquanto duas semanas após a extinção do “Leituras” do Público, incluído no "Ipslon", com novo grafismo, sinto a sua falta, ele está lá, mas já não existe.
Para terminar eu, o apaixonado de cinema, que toda a minha vida sempre saí de casa com um livro ou jornal na mão para ler, gostaria de deixar aqui uma questão respeitante à informação no audiovisual, a diferença deixou de existir nas nossas estações de televisão, ao vermos o alinhamento das notícias do telejornal, descobrímos como é indiferente estar no canal “x” ou “y”, todas elas dão a mesma notícia, ninguém aposta na diferença e isso lamento.
Rui Luís Lima
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