segunda-feira, 26 de março de 2007

"DECIDA VOCÊ" NA TELEVISÃO


Os cartazes diziam: "Decida você". Mais de 40% escolheram Salazar, seguindo-se Cunhal. Na minha perspectiva, foram más opções. Triunfou o militantismo das opiniões ideológicas. De entre os portugueses já mortos - porque foram os escolhidos na parte final do concurso -, há, inegavelmente, exemplos mais adequados de bons e justos.

Houve um lado de ridículo no concurso "Os grandes portugueses", visível no dispositivo televisivo. Ontem, falava-se em bravura e coragem. Não sei se as pessoas que "representavam" determinadas personalidades do passado nacional tinham competência para assumirem essa função. Depois, cada "representante" tinha um tempo limitado para defender o seu "representante", como se fosse um Quiz (teste) qualquer. As figuras (cartão?) que "representavam" as personalidades eram feias (não devo empregar a palavra "tosca").

No debate sobre o concurso que se estabeleceu na opinião pública surgiram múltiplas posições, várias delas acaloradas e, por isso, despidas de bom senso. No fim de contas, tratou-se de um mero concurso de televisão, o qual aproveitou o canal onde foi emitido o concurso, ao pôr as pessoas a falarem dele. Eis uma razão positiva: relembrar figuras da História de Portugal, goste-se ou não.


Mas, para além desse lado de ridículo, devemos olhar o concurso dentro das narrativas da pós-televisão (ver aqui). Na pós-televisão, há pequenos canais especializados e audiência reduzida, com o espectador a ser programador do que vê. No caso de "Os grandes portugueses", o espectador-militante usou o telefone para influir na votação, o que acontece desde o primeiro Big Brother (na TVI). Votar em Salazar seria uma outra versão do votar no Zé Maria. Eis uma razão negativa: abandonar o serviço público e entrar no infotainment (não devo usar a palavra "tablóide").


4 comentários:

Anónimo disse...

tristeza e vergonha.

Pedro Javier Mazzoni disse...

Mas será que já ninguém neste país entende de estatística?
Será que em vez de debater quem é para os portugueses o maior português, ninguém fala em amostras auto seleccionadas?
É que este método usado neste caso, nada de científico tem...

Principessa disse...

no nosso mundo esse tema também está em discussão. Aliás, penso que não há sitio em Portugal onde não esteja. Na minha opinião, a vitória de Salazar teve esse lado positivo: colocar as pessoas a pensar e a reflectir, especialmente as que não votaram (e aqui penso, que seja a maioria dos portugueses)!

Anónimo disse...

continuo a achar um desplante abusivo o recurso sistemático à parangona do voto dos "portugueses" quando a RTP deveria referir-se exclusivamente aos "participantes" no dito concurso televisivo ou, quando muito e já pro bono, aos "telespectadores do concurso"

no mais, reitero que a única motivação do programa era exactamente o branqueamento a que se assistiu, com a cereja no bolo da coragem de porem o ditador a vencer a "televotação"

isto é verdadeiro "serviço público", pago pelos contribuintes

ou será uma indústria cultural ?