terça-feira, 13 de março de 2007

RUI ARAÚJO


Hoje, Rui Araújo, provedor do leitor do jornal Público, falou sobre ética e deontologia da comunicação e o papel do provedor do leitor em aula da Universidade Católica Portuguesa.

Como provedor, procura tornar transparente a relação entre quem escreve o jornal e quem o lê. Para isso, ele trabalha com dois elementos, o código deontológico do jornalista e o Livro de Estilo do Público.

Do perfil dos leitores que escrevem para o provedor, Rui Araújo deixou alguns apontamentos: já lhe enviaram mais de três mil mensagens, a quase totalidade em email, de todas as idades e em número muito próximo a nível masculino e nível feminino e um peso muito maior de leitores do norte face ao sul. O número de mensagens tem vindo a aumentar, com algumas delas a ocuparem algumas páginas. Por regra, as cartas que dizem bem do jornal são remetidas ao director do jornal e as que dizem mal ao provedor. O provedor recebe mensagens peculiares: pedidos de emprego, cartas endereçadas ao provedor da RTP e do Diário de Notícias, cidadãos de origem portuguesa mas vivendo no Brasil e em África pedindo ajuda para descobrir as suas raízes familiares. Também recebe poemas e receitas de culinária e emails de fãs de futebol que se queixam do pouco relevo dado ao seu clube.

O provedor do Público acha que, em geral, o público leitor é pouco exigente. Quem lê apenas o Metro ou o Destak e vê a televisão não fica muito bem informado. Portugal não tem muitos hábitos de leitura, faltando também uma cultura de cidadania. Quando há três novelas no prime-time televisivo, tal ilustra o atraso cívico do país. O qual está apenas com disponibilidade mental para a Coca-Cola.

Quanto ao jornalismo e aos jornalistas, considera uma perda a homologia entre informação e serviço - a informação é crescentemente uma mercadoria - e critica a tendência actual de saída dos jornalistas mais velhos, a memória da redacção. Para ele, faltam reportagens nos jornais e trabalhos de investigação. Daí uma crítica poderosa à RTP, onde teve um papel importante na área da grande reportagem, e aos canais privados. Televisão-espelho, onde aparecem só quase os cidadãos comuns, os canais resumem a informação ao futebol, ao fait-divers, às notícias de ruptura (golpes de Estado, catástrofes, acidentes), a confrontos fictícios e a celebridades "permanentes".

O homem que queria ser marinheiro e acabou no jornalismo, que deu a notícia da morte de Roland Barthes sem a confirmar junto de uma segunda fonte, acredita, apesar da crítica, no jornalismo como uma missão, com grande especialização e com necessidade de fazer reportagens de investigação capazes de tornar mais aliciante a profissão.

Sem comentários: