Na semana que acabou, o combate de gigantes em Portugal andou em torno da OPA da PT por parte da SONAE, opondo Henrique Granadeiro a Belmiro Azevedo (e Paulo Azevedo). Foi uma luta que se arrastou por mais de um ano, com notícias todos os dias nos jornais e entrevistas diárias na televisão nas semanas mais recentes. O editorial de José Manuel Fernandes, no Público de ontem, é revelador dessa luta de titãs.
No Reino Unido, há uma luta semelhante - maior, digamos, pela dimensão do mercado - entre dois patrões muito conhecidos, Rupert Murdoch, da Sky, a televisão por satélite, e Richard Branson, da Virgin, proprietária da televisão por cabo no Reino Unido.
O que aconteceu? Na quinta-feira passada, a Virgin deixou de incluir, na sua televisão por cabo, os canais da Sky, nomeadamente a Sky One, onde passam séries de culto como Lost, 24 e The Simpsons. Sem aviso prévio. A razão é o aumento de preço que a Sky quer fazer a Virgin pagar. A Virgin diz que a Sky quer aumentar para o dobro, a Sky diz que a subida são uns modestos 20 por cento. A Virgin acrescenta que os executivos da Sky até rejeitaram viajar nos aviões da Virgin.
A história começou o ano passado, como documenta David Smith para o Observer de hoje, e que me serve de guia. Branson quis comprar as acções da ITV, o que significava passar a ter um forte canal de televisão. O que lhe possibilitava disponibilizar o quad play (quatro serviços): telefone celular, telefone fixo, TV a pagamento (pay TV) e banda larga. A Virgin seria quase imbatível na sua oferta. Mas Murdoch adiantou-se e pagou £940 milhões (mais ou menos €1410 milhões). Foi a declaração de guerra.
As personagens de ambos são descritas na longa peça de Smith. Murdoch, nascido na Austrália mas agora cidadão com passaporte dos Estados Unidos, tem 76 anos, começou como herdeiro de interesses em jornais do seu país de origem mas criou de raiz a News Corporation, hoje uma multinacional. Em Fevereiro de 1989, lançaria um satélite Astra, no que era o arranque da televisão por satélite. Hoje, domina nomeadamente o mercado britânico, com mais de oito milhões de assinantes; ele tem alterado a face do desporto, investindo muito dinheiro. Por exemplo, garante os direitos do campeonato inglês (Premiership).
Cerca de 20 anos mais novo e disléxico, Branson - melhor, Sir Richard Branson - começou aos 16 anos com uma revista de cultura. Arrancou com um serviço de correio e arranjou um estúdio de gravação, a Virgin Records. Depois, vieram os aviões e o seu marketing agressivo, que passa por viagens de balão, uma das quais, recentemente, correu mal, com a sua queda. Mais recentemente, há nove dias, um comboio da Virgin descarrilou. Brandson apareceu logo no local, apoiando os familiares de uma pessoa falecida no acidente.
Murdoch dá poucas entrevistas. No ano passado, na New Yorker, referindo-se à juventude inglesa disse mais ou menos o seguinte: as igrejas estão vazias, mas os pubs, até às 10 ou 11 da noite, estão cheios de pessoas que bebem; o aumento do consumo de álcool é alarmante. Brandson é uma espécie de hippy, tendo a barba como imagem de marca, e gosta de falar para os media - é popular, nesse sentido. E o nono homem mais rico do Reino Unido (£3 biliões e mais de 250 empresas). Ainda a companhia de aviões Virgin era uma anã quando comparada com a British Airways (BA) e Branson dizia que tinha uma grande alegria de lutar com um dinossauro (a BA). Do lado da BA riram-se - mas subestimaram Branson, engolindo em seco anos depois.
Ambos, Murdoch e Branson, são estrategas inteligentes, gostam de arriscar e têm muitos bons recursos humanos e leais consigo. Murdoch não é a mesma coisa que a BA, logo é um adversário de maior respeito para Branson, mas há muita gente que quer ver derrotado o velho mogul (nome algo depreciativo dado a um magnata dos media). É que ele tem interesses muito vastos nas indústrias culturais (televisão, cinema, edição de livros e de internet) e quase que amordaça a concorrência.
Lá, como cá, é de acompanhar a luta dos gigantes. As indústrias culturais, dos media e das telecomunicações moldam o nosso universo actual. O que se pensa e como se pensa passa por esses contentores e redes de transmissores.
1 comentário:
Sobre um tal " museu " ...
Pergunto, será que ainda vamos ter um " ? "
(perdoai-lhes senhor por invocarem o ilustre nome de MUSEU vão !) , dito museu, dedicado ao ditador Salazar , na sua santa terrinha, antes de termos um grande MUSEU português dedicado à resistência e aos negros anos do fascismo, que tantas vidas eclipsou ? Teremos que nos questionar ... quando o conceito de museu é usado para branquear a memória e atraiçoar a história ! Não lhe chamem MUSEU, chamem-lhe mausoléu, epitáfio à falta de lucidez. Monumento à pequenez ...
Eclipsámo-nos de vez ?!
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A esta inquietação CN responde ASSIM com magistral argumentação ! Dê o seu contributo para o museu que nos faz falta em »»»»»» Esse grande filho da Pátria
Posted by isabel victor at 3/04/2007 4 comments
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