Textos de Rogério Santos, com reflexões e atualidade sobre indústrias culturais (imprensa, rádio, televisão, internet, cinema, videojogos, música, livros, centros comerciais) e criativas (museus, exposições, teatro, espetáculos). Na blogosfera desde 2002.
segunda-feira, 30 de abril de 2007
REVISTAS OU SUPLEMENTOS?
Na Notícias Magazine (NM) de ontem, com o título Audiências. De "pin" ao peito, dava-se conta da liderança daquela publicação dominical que acompanha os jornais Diário de Notícias e Jornal de Notícias.
Olhando para os gráficos, lê-se que a NM é mais lida que revistas como Proteste, Maria, Visão, Nova Gente ou Caras. A meu ver, esta comparação não se devia fazer, pois mistura publicações autónomas com revistas que acompanham jornais. Curiosamente, a menos lida das dez é o caderno Única, do Expresso - do mesmo modo que com a NM, tenho pudor em chamar-lhe revista, por causa da autonomia relativamente ao produto principal, o jornal.
Retirando a Proteste e a Visão, há homogeneidade no tipo de informação lida nessas publicações. Trata-se de informação leve, em papel macio e brilhante, às vezes focando histórias das estrelas locais e das suas idiossincrasias específicas, às vezes com artigos de aconselhamento (beleza, sexualidade). Não há política nem cultura exigente nas publicações, as quais podem ler-se num consultório médico ou de advogado enquanto se espera pela nossa vez na consulta.
Reparando com mais atenção nos quatro gráficos que enchem duas páginas da NM de ontem, a NM compara-se nos terrenos de revistas mais lidas, revistas de jornais (o único sector em que se devia efectuar a comparação), newsmagazines (a menos comparável) e revistas femininas. Ou seja, para quem escreveu, a NM é uma mistura adequada dos quatro tipos de publicações, o que, na minha opinião, não é. Como anotei acima, a NM é um tipo de publicação ancorada num título principal - pouca gente compraria a NM isoladamente -, atinge um público-alvo dentro dos compradores do título principal (informação mais leve, dirigida ao público feminino).
Eu não valorizo muito este tipo de publicação. Os meus gostos estão noutros sítios dos jornais. Para além do caderno principal, elejo os cadernos de cultura, arte e política como os principais. Dentro deste âmbito, recordo com uma já grande saudade a revista (ou caderno) 6ª, sacrificada na última remodelação do Diário de Notícias. Ali, eu encontrava informação bem trabalhada das novidades literárias, cinematográficas, musicais e estéticas. Com textos soberbos de Umberto Eco, Mario Vargas Llosa e outros. A sua substituição por uma revista-caderno de televisão mostra a dificuldade dos jornais estabelecerem empatia com os leitores que gostam de jornais. O que vem na publicação editada ao sábado com o formato da revista Maria encontra-se em muitos outros lugares, não acrescenta nada ao conhecimento. Claro que compreendo a inflexão do grupo de media proprietário do Diário de Notícias: os negócios presentes e futuros da televisão, seja na PTM ou na televisão digital terrestre.
Retiro os títulos da capa do nº 63 da revista 6ª (23 de março último): "Sons - Teresa Salgueiro em viagem pelo Brasil"; "Imagens - a Itália de Berlusconi filmada por Moretti"; "Letras. Carmen Miranda. Memória em technicolor". Agora, à distância apenas de um mês, percebe-se melhor a qualidade daquela aposta, se comparada com o produto que a substituiu.
Terá sido uma boa opção o abandono de uma publicação desta qualidade? Os leitores correm depressa para ler a Ípsilon, do concorrente Público.
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