Textos de Rogério Santos, com reflexões e atualidade sobre indústrias culturais (imprensa, rádio, televisão, internet, cinema, videojogos, música, livros, centros comerciais) e criativas (museus, exposições, teatro, espetáculos). Na blogosfera desde 2002.
sábado, 21 de abril de 2007
A (NOVA) IMPORTÂNCIA DA TELEVISÃO
A televisão volta a estar na ordem do dia.
Por um lado, o Diário de Notícias decidiu acabar o importante suplemento "6ª", espaço de crítica e de novidades em áreas como cinema, teatro, artes plásticas e literatura, e substituiu-o por um caderno sobre televisão, visando essencialmente o entretenimento. Isto empobreceu, em muito, o panorama cultural na imprensa. A informação de massas ganhou à comunicação da cultura.
Por outro lado, e hoje, o Expresso dá um grande e múltiplo espaço à televisão - três páginas: 1) entrevista de Pina Moura, novo homem forte da TVI via Media Capital (que levanta graves questões éticas, quanto a mim), 2) artigo de opinião de Morais Sarmento, antigo ministro com responsabilidades na área dos media e um dos rostos da transformação da RTP (o que trouxe uma grande contestação popular a essas medidas), contra a inscrição da privatização da RTP1 no novo programa do PSD, principal partido da oposição, 3) cenários do futuro da TDT (televisão digital terrestre), 4) audição (por escrito) do primeiro-ministro pela ERC (Entidade Reguladora para a Comunicação Social, cujas lutas internas se tornam flagrantes, com o isolamento do vogal Rui Assis Ferreira, a crer na notícia do jornal).
A entrevista de Joaquim Pina Moura tem consigo ideias muito claras: 1) a sua aceitação para o cargo na Media Capital tem (também) um pressuposto ideológico, 2) todo o projecto empresarial tem objectivos políticos, nomeadamente na comunicação social. À pergunta dos jornalistas "Este convite tem, então, uma componente ideológica", responde Pina Moura: "Creio que também tem essa motivação. Não tenho dúvidas de que, da minha parte, a aceitação tem também esse pressuposto". Para o novo homem-forte da Media Capital, a Prisa é um grupo cotado, que cumpre as regras do mercado, mas com uma orientação editorial (socialista). Mais à frente, Pina Moura, antigo dirigente do Partido Comunista e, depois, ministro do Partido Socialista, fala do líder do PSD, actualmente na oposição: "Marques Mendes julga os outros à sua imagem e semelhança. É conhecido o papel activo que tinha na definição dos alinhamentos dos telejornais da RTP na primeira geração da sua actividade governativa".
Tenho fortes receios do comportamento futuro de Pina Moura à frente da TVI, pela assunção (ainda que transparente, com afirma) de aceitação ideológica do seu lugar. Pina Moura usa, na entrevista, um jargão político que não a linguagem comum do gestor. Se, numa empresa de qualquer actividade, isso não é complicado, numa empresa de comunicação torna-se obviamente delicado.
Sabemos que, num ser humano, a independência e a isenção na análise de factos são sempre sopesadas por crenças e convicções, mas parece-me excessiva esta sua "transparência". Se o administrador se mostra assim, o que pode fazer o jornalista na busca do equilíbrio e do distanciamento face aos poderes? O poder do administrador furta o jornalista à independência? Se, nas últimas semanas, se falou tanto na pressão governamental sobre jornais e outros media, qual vai ser a próxima discussão? Pode-se concluir que o jornalista é controlado e as notícias filtradas por agências de comunicação? Ler jornais ou ver informação na televisão é, pois, cada vez mais um caminho feito de cautelas.
Para além destas importantes notícias, pelos temas em si, há uma coluna assinada por AS (Ângela Silva), que me parece a principal de todas. Ela não traz fontes de informação associadas; é, por isso, uma opinião da jornalista. A qual pode reflectir pontos de vista de vários agentes sociais. A entrada de Pina Moura na TVI (um elemento do PS, partido político no poder) pode, diz o artigo, "provocar mudanças de estratégia no modelo de atribuição de frequências no digital terrestre de acesso gratuito". Com o possível controlo da TVI, o governo fica menos desgastado politicamente. Mas, a haver redistribuição de frequências pelos actuais grupos, nomeadamente o de Balsemão (identificado com o PSD), tenderiam a reequilibrar-se as forças instituidas e a baixar a tensão gerada, a que se acrescenta a ideia de privatizar o primeiro canal público, por proposta do PSD. Por outro lado, José Eduardo Moniz, até agora responsável máximo da TVI, poderá passar-se para a Global Notícias, de Joaquim Oliveira, para o assessorar numa possível atribuição de frequência na TDT.
Por formação, não adiro facilmente às teorias da conspiração, radicais em si e que apontam para um controlo da informação ao serviço do capital e das grandes empresas (multinacionais), cujo sentido de concentração de propriedade conduz a uma perda do pluralismo de opinião. Porém, as tendências desenhadas nos jornais e na televisão fazem-me atento ao que se passa, incluindo as decisões do regulador. Conclusão: a imagem em movimento que nos chega a casa através do pequeno ecrã continua a ter uma grande atenção por parte de quem decide. A TDT é o novo campo de disputa.
E os consumidores, estarão dispostos a aceitar estas posições? Não migrarão para outros media?
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1 comentário:
Os CTT estão a dar a oportunidade de desenharmos um selo para 2008.Papelustro,blogger figueirense, escolheu o tema O imaginário infantil porque...o melhor do mundo são as crianças.Para que a Bruxinha viaje nos envelopes de Portugal inteiro precisa do vosso VOTO!É fácil: cliquem no link, insiram o vosso email e depois confirmem o voto no email que vão receber na vossa caixa de correio!
Obrigada!
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