sexta-feira, 27 de abril de 2007

PÚBLICOS E AUDIÊNCIAS EM DAYAN


Daniel Dayan tem escrito bastante sobre públicos e audiências. Os leitores portugueses já o conhecem nomeadamente do volume organizado por ele e por José Carlos Abrantes, editado no final do ano passado com o título Televisão: dos públicos às audiências (Livros Horizonte e CIMJ). Um livro mais antigo, mas igualmente celebrado, foi o escrito de parceria com Elihu Katz, com o nome A História em directo. Os acontecimentos mediáticos na televisão (Minerva, 1999; original: Media events).

Um outro texto que eu considero de particular importância seria publicado no volume organizado por Sonia Livingstone Audiences and publics: when cultural engagement matters for the public sphere (Intellect, 2005). Apesar do título provocador e complexo, Mothers, midwives and abortionists: genealogy, obstretrics, audiences and publics, Dayan deixa-nos uma excepcional e clara percepção dos conceitos público e audiência, bem maior que a do volume editado o ano passado.

A preferência de Dayan vai para público, o qual implica sociabilidade, estabilidade, envolvimento e efectivação (performance). Para ser mais preciso, o público é uma entidade coerente cuja natureza é colectiva, em que o conjunto, para além da sociabilidade, significa identidade partilhada e um sentido dessa identidade. Público não é o simples espectador no plural, a soma de espectadores. O que o leva a apresentar os propósitos do seu capítulo, em número de três: 1) retratar uma noção chamada público, 2) observar a interligação entre públicos e audiências, 3) observar a posição dos que olham os públicos e propõem uma genealogia das entidades observadas.

Dayan arquitecta distintos públicos: de gosto, de questões (issues) - como os ligados à política - e de identidade - caso dos fãs de música, jogos e desporto. Separa público de espectadores, multidões, comunidades, activistas ou militantes, e testemunhas. E serve-se das profissões para diferenciar: quando o demógrafo olha os públicos, vê grupos etários; quando o semiótico olha os públicos, vê comunidades interpretativas. Para além da perspectiva geográfica: em França, as audiências tendem a ser, ao passo que os públicos tendem a fazer.

Os públicos possuem diferentes entidades (personae fictae), através das quais se liga a atenção pela reacção e resposta - públicos, audiências, testemunhas e espectadores. A primeira tarefa é reconhecer a diversidade deste conjunto heterogéneo. A tarefa seguinte consiste em olhar a recepção da (na) televisão.


Dayan fala da necessidade de distinção entre públicos e tipos de audiências. Pelo que propõe um duplo entendimento de público e um duplo entendimento de audiência. Quando se fala de públicos, há um tipo de actor colectivo, discreto, mitologizado, envolvido em processos políticos e culturais; mas também se pode usar público no sentido genérico. Quando se fala de audiências, podem discutir-se estas na pesquisa quantitativa mas também considerá-las no sentido dos estudos de recepção.

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