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José Carlos Abrantes, na sua coluna do provedor do leitor do Diário de Notícias, põe o correio dos leitores em dia. Hoje, refere cartas de leitores do jornal que apontam uma postura de desvio do jornal (menos objectivo, mais tendencioso). Um dos leitores, que afirma ler o jornal há 77 anos - logo um fiel mas muito velho leitor -, anota que o diário insiste em assuntos escabrosos como a pornografia, sexualidade e prostituição.
Em meu entender, é difícil comparar um produto informativo como um jornal de duas épocas tão distintas. Há temas novos (e controversos, por oposição a uma disfarçada hipocrisia ou autocensura no tratamento de dados assuntos oitenta anos atrás, sem esquecer a censura política), há secções bem definidas (e especializadas, como ciência, cultura, artes), a fotografia ocupa um espaço que quase não existia, as peças noticiosas têm uma maior dimensão nos assuntos e com profundidade (as notícias de meados do século XX eram mais curtas ou breves) - mesmo que hoje nos queixemos da redução de tamanho. Isto sem esquecer a influência dos outros media, em especial os do audiovisual: o jornal já não é o elemento da informação mais recente mas reflecte tendências, detalha e aprofunda acontecimentos, acompanha a produção informativa e de lazer vinda desses media electrónicos.
A memória, sem nos apoiarmos noutros instrumentos - como a comparabilidade do que é comparável -, engana-nos. A pedagogia que pensávamos existir em décadas passadas nos jornais ainda se mantém. E lêem-se as colunas de opinião com o mesmo entusiasmo que muitos anos atrás.
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