Padilha elabora a sua teoria dos centros comerciais como catedrais de consumo com elementos de autores como Freud, Bourdieu, Baudrillard e Lipovetsky. Bourdieu, que desenvolveu a teoria da distinção social pelo consumo cultural e pelo gosto (A distinção), aponta este como importante marca de classe social e determinante para o consumo de um produto e para o uso que é feito dele (Padilha, 2006: 129). Quanto mais o gosto está distante das necessidades humanas básicas, mais identifica uma elite. Seguindo Bourdieu, os consumidores vivem diferentes experiências em função da posição ocupada no espaço económico.A autora regista também contributos da escola da economia política, o que a leva a concluir que o shopping center não é simplesmente espaço de aquisição de coisas – é também um espaço de construção da identidade. Escreve que os frequentadores dos centros comerciais se identificam entre si e criam novas relações interpessoais. Isto é, os shopping centers são locais para comprar mercadorias e lugares, aliando estrategicamente mercadorias, serviços, lazer, cultura (Padilha, 2006: 25). Dito de outro modo: ao consumidor oferecem-se simultaneamente opções de compras e divertimento.
Surgido nos anos 1950 nos Estados Unidos, quando o país vivia um grande crescimento económico e uma metropolização planeada, o shopping center é um lugar de circulação de mercadorias tornado local de felicidade pelo consumo, segregação assente na segurança, homogeneização dos gestos e desejos, e ocupação dos tempos livres dos indivíduos. O moderno centro de lojas seria invenção do arquitecto vienense Victor Gruen, inspirado nas galerias de Milão e Nápoles do século XIX, quando percebera a oportunidade de criar um novo centro urbano que pudesse acomodar bem os automóveis, respeitando também os peões (Padilha, 2006: 57). O centro das cidades iniciara o seu declínio aquando da invenção do supermercado, alargado com o sucesso do shopping center. Os novos centros comerciais, onde se encontra quase tudo, não eram adequados ao centro das cidades. Pela necessidade de mais espaço, tais superfícies implantar-se-iam nas periferias.Actualmente, Valquíria Padilha é docente no Departamento de Administração da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade (FEA), na Universidade de São Paulo, campus de Ribeirão Preto-SP. Mais informações sobre o texto aqui e aqui.
Leitura: Valquíria Padilha (2006). Shopping center, a catedral das mercadorias. S. Paulo: Boitempo Editorial
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