Textos de Rogério Santos, com reflexões e atualidade sobre indústrias culturais (imprensa, rádio, televisão, internet, cinema, videojogos, música, livros, centros comerciais) e criativas (museus, exposições, teatro, espetáculos). Na blogosfera desde 2002.
quarta-feira, 15 de agosto de 2007
ANUÁRIO DO OBERCOM
Já foi editado no primeiro semestre do ano mas só agora tive oportunidade de o ler (apenas fiz, aqui, uma pequena nota após a sua recepção electrónica). O sexto Anuário da Comunicação 2005-2006, do OberCom, analisa 10 áreas: televisão, cinema, vídeo, áudio, rádio, consolas e videojogos, imprensa, telecomunicações, tecnologias da informação e da comunicação, e publicidade. Tem ainda uma segunda parte com textos de especialistas em várias áreas.
Seguem-se as linhas principais de cada área, na minha perspectiva, colocando ainda algumas impressões e sugestões.
Da televisão, conclui-se que o tempo médio dispendido por espectador é de 4:17:56 (bastante acima das habitualmente consideradas três horas e alguns minutos), com as mulheres a gastarem mais tempo com o aparelho (56,2%), na faixa etária acima dos 64 anos e na classe D (33,2%). Nos canais generalistas, o género com mais programas é a informação (RTP) e a ficção (SIC e TVI). Segue-se a publicidade (não considerei a coluna Diversos, pois ela deveria ser desagregada dado ter a maior percentagem de todos os géneros). O género cultura geral/conhecimento é o que mais ocupa a RTP, mas também o género arte e cultura, este inexistente na TVI. O canal com mais audiência (TVI) atinge os 39%.
Quanto ao cinema, há 75 produtoras nacionais, tendo produzido 47 projectos em 2005 (19 curtas metragens, 15 longas metragens e 13 documentários). Há 17 distribuidoras, a maior delas a Atalanta, seguindo-se a Lusomundo. Quanto ao parque cinematográfico, Lisboa tem 49 recintos perfazendo 173 salas, a que se sucede o Porto com 87 salas. A percentagem de espectadores é de 38,2% em Lisboa e 22,5% no Porto, o que dá 60,7% apenas nestas duas cidades. Mas regista-se uma quebra de espectadores, argumentando os investigadores do OberCom as dificuldades económicas da população, concorrência do mercado de DVD e pirataria através de descarregamentos ilegais na internet.
No sector vídeo, conclui-se pela existência de videogravadores em quase 2,2 milhões de lares no país, sendo o Grande Porto a área com maior densidade desses equipamentos. Um factor de influência na aquisição é a idade da dona de casa, sendo a faixa etária 35-44 anos a que apresenta maior número de equipamentos. Além disso, quanto mais elevada a classe social mais possibilidades existem de equipamento em casa. Em termos de títulos, no primeiro semestre de 2006 atingiram-se pouco acima dos três mil, com proeminência dos americanos. O maior peso dos videogramas classificados é o da classe etária M/12 (24,4%), seguindo-se a M/6 (23,8%). A um aumento do DVD corresponde uma quebra de títulos em sistema VHS.
Quanto ao áudio, o OberCom fala de uma redução do volume de unidades vendidas (pouco mais de 3,5 milhões no primeiro semestre de 2006), sendo os discos oriundos da produção internacional os mais vendáveis, a que se seguem, por esta ordem, a produção nacional, as colectâneas e o repertório clássico. Se os CD estão a diminuir receitas, o mercado do vinil parece recuperar após a morte anunciada. Em termos de empresas, a EMI vem à frente (20,7%), sucedendo a Universal (17,6%). Se a cassete desapareceu, o estudo não inclui dados relativos aos descarregamentos de música, legais ou ilegais.
O sector da rádio é caracterizado fundamentalmente pelas audiências, que atingem 4,9 milhões de ouvintes. A maioria constitui-se por homens (54,2), no escalão 25-34 anos (23,8%). A RFM é a estação mais escutada (21% de share de audiência), seguindo-se a Renascença (13,1%). Pelas cronotopias diárias, a prática de ouvir rádio ocorre em percursos usando o automóvel (29,4%), vindo depois a audição em casa (28,4%) e no emprego (10,2%), quase sempre em regime de multi-tarefas (ouvir rádio enquanto se faz outra actividade).
Em termos de consolas e videojogos, há 26,2% de lares portugueses com este tipo de equipamento. A taxa de penetração é maior em homens (53,8%) e na faixa etária 15-17 anos (52,7%), seguindo-se a de 25-34 anos (31,5%), e na classe média (36,2%). A Playstation 2 lidera o mercado (29,5%) com 275 títulos de jogos, seguindo-se os jogos para computador (24,7%). A classificação de títulos nas consolas aponta para um público muito jovem (38,9% dos jogos têm classificação para maiores de 4 anos, sendo que destes jogos 69,7% funcionam na consola Gameboy Advance). Já em termos de jogos de computador não há uma tão acentuada concentração etária nas crianças e adolescentes. A maior parte da produção vem do Reino Unido (633 títulos), seguindo-se a Espanha e a França.
Da imprensa, o estudo aponta para uma quebra de consumo (25,9% de audiência no primeiro semestre de 2006). O jornal mais lido é o Jornal de Notícias, seguido do Correio da Manhã. O segmento etário que mais compra jornais é o de 25-34 anos (20,8%) e o de 35-44 (19,3%). Mas os leitores acima dos 64 anos são igualmente bons compradores de jornais. Há mais leitores masculinos (52,4%) que femininos. Quanto a profissões, 26,7% são inactivos ou reformados ou desempregados, 17,4% trabalhadores qualificados/especializados, concentrando-se a compra e a leitura na Grande Lisboa (19,9%). A perda de compra de jornais tem, no entender do OberCom, diversas razões, casos da preferência dos mais jovens pela internet e da concorrência dos jornais gratuitos.
Na área das telecomunicações, as principais características residem na perda de acessos telefónicos fixos e número de chamadas (133 milhões), substituídos pelos telefones móveis (6,5 mil milhões de chamadas), alargando ainda o volume de SMS (4,6 mil milhões de mensagens). O OberCom atribui o uso social do SMS a camadas jovens da população.
Nas tecnologias de informação e de comunicação, o número de ISP (fornecedores de serviços) tem baixado, funcionando actualmente 28. A ligação doméstica é por ADSL (35%), telemóvel de banda estreita (33%) e cabo (31%). A banda larga atinge já 24%. A utilização do computador é mais masculina (46%), sendo o nível etário 16-24 o maior consumidor (83%). A condição de estudante é propícia ao uso do computador. Dos utilizadores, 36% afirma gastar uma a cinco horas por dia, utilizando o correio electrónico (81%), telefone (16%) e blogues (10%). Mas também faz parte do uso do computador a pesquisa de bens e serviços (84%), jogar ou descarregar jogos, imagens e música (46%).
Finalmente, quanto à publicidade, os maiores investimentos são na televisão (70,2%), seguindo-se a imprensa (18,1%). Em 2006 registou-se um aumento dos investimentos publicitários, relativamente aos anos anteriores (cerca de 15%). Em termos de agências de publicidade, há mais de 3500, com 64,2% delas concentradas em Lisboa. As principais agências são a Euro RSCG, Y&R Red Cell e a Publicis. Do lado dos anunciantes, a maior é a Reckitt Benckiser, seguindo-se a Vodafone e a Modelo Continente Hipermercados.
Dos comentários e críticas destaco os seguintes: 1) os sectores de rádio e telecomunicações são os com maior dificuldades de caracterização, esperando-se melhor tratamento de dados (programação e principais grupos regionais de emissores e anunciantes na rádio; desagregação por empresas e serviços nas telecomunicações), 3) tratamento mais fino do cinema (a colocação dos títulos exibidos é excessiva, pois nem sequer há comparação com outros sectores como a televisão e os videojogos), 4) confusão na área das tecnologias de informação e de comunicação, pois recuperam-se algumas áreas já trabalhadas como a televisão e os telemóveis mas não a rádio, bastando referir-se a indicadores de acesso a computadores (tenho dúvidas se esta matéria não ficaria melhor no sector de telecomunicações), 5) em virtude das fontes primárias de informação serem diversas, não há uma nomenclatura sempre igual e clara, desejando-se melhorias no próximo anuário com a produção própria de estatísticas (ou recebendo-as do INE, como a apresentação de Gustavo Cardoso indica), 6) no estudo, como noutros estudos, a análise de consumos não é totalmente correcta, pois aponta apenas para um maior uso as faixas etárias mais jovens nos casos da internet ou do telemóvel e esquece que há empresas que massificaram o seu uso desde há dez anos e os seus utilizadores pertencem a faixas etárias mais velhas; isto significa que a metodologia científica empregue, o inquérito, não foi suficientemente bem aproveitada, 7) esta crítica surge, mas mais matizada, quanto aos videojogos, em especial os de computador, em que há faixas adultas, acima dos 35 anos, que são jogadores compulsivos.
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
Sem comentários:
Enviar um comentário