Textos de Rogério Santos, com reflexões e atualidade sobre indústrias culturais (imprensa, rádio, televisão, internet, cinema, videojogos, música, livros, centros comerciais) e criativas (museus, exposições, teatro, espetáculos). Na blogosfera desde 2002.
quarta-feira, 12 de setembro de 2007
LIVROS E EDITORAS
Na edição deste mês de Os Meus Livros, ressalto a entrevista com José Carlos Alfaro, editor da Quimera.
Nascida há vinte anos, a Quimera começou com a edição de um livro com recolha de textos e fotografias sobre Lisboa. Conta o editor: "Em 1987, quando decidi escolhê-la para primeira autora [Marina Tavares Dias], fui bater à porta do Diário Popular para a convidar, sem saber quem iria encontrar. Nessa altura, a Marina era uma jovem jornalista. Hoje é um nome essencial quando pensamos em olisipografia. Temos cerca de 25 livros da Marina, na sua maior parte sobre Lisboa".
A editora ficou associada aos álbuns, mas também é muito conhecida pela colecção O que é e pelos livros sobre teatro vicentino (63 livros). Diz José Carlos Alfaro que um livro-álbum requer competências próprias: concepção gráfica, pré-impressão, criação de parcerias, marketing.
Um dos temas referidos na entrevista, conduzida por Filipe d'Avillez, seria a concentração. Alfaro não acha necessário questionar, "como em todas as coisas inevitáveis" (palavras suas): "Há naturalmente consequências para o sector editorial, sobretudo para quem nele trabalha. [...] Em alguns países, em que a concentração é uma realidade com vários anos de provas dadas, encontramos uma vida editorial de indiscutível vitalidade". Para ele, o preocupante é a falta de alternativas para a venda de livros. E continua: "Se viermos a estar sujeitos a uma ditadura de dois ou três grandes grupos livreiros que imponham margens a seu bel-prazer, que excluam de todo o livro com rotação menos rápida, que não aceitem consignações - então, sim, teremos um cenário de catástrofe para a edição de qualidade".
Este alerta encaixa na notícia do Diário de Notícias de ontem e que aqui fiz eco. A Bertrand tem 50 lojas espalhadas em Portugal, certamente o livreiro maior do país. Comprado recentemente pela Bertelsmann, está a impor regras no relacionamento com os editores (posição dominante). Os com menos tesouraria terão de aceitar essas regras (pagamento de espaço para ter livros expostos, pagamento pelas devoluções). Editores como a Dom Quixote, Gradiva e Porto Editora já não colocam os seus livros na Bertrand. Mas também a Europa-América, as Edições 70, a MinervaCoimbra.
A semana passada, um editor falava-me da possibilidade da FNAC ser comprada pela mesma Bertelsmann. A acontecer seria um monopólio no sector livreiro. Os editores mais pequenos ficariam, possivelmente, esmagados. Esperemos que isso não passe de um mero boato, até porque a FNAC pertence a um grupo económico.
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