sexta-feira, 21 de setembro de 2007

O CINEMA EM JOÃO MÁRIO GRILO


Do mesmo modo que o catálogo do Museu do Filme em Berlim, João Mário Grilo também realça o cinema expressionista alemão.

O cinema alemão aparece discutido numa aula, contra quatro aulas da escola francesa, quatro aulas do cinema soviético e três aulas do cinema americano. O livro As lições do cinema. Manual de filmologia contém 23 aulas com guiões do curso de filmologia, disciplina que o autor ensina na Universidade Nova de Lisboa desde 1984. Cada guião contém um sumário, uma descrição da matéria, sugestões de visionamento de filmes e lista de bibliografia.

Eis a sugestão dos tópicos das duas aulas iniciais: conceitos como plano, enquadramento, campo, fora de campo e raccord (p. 11). Do cinema alemão, prefere falar de caliganismo em vez de expressionismo. Quando surge o filme de Robert Wiene, em 1918, O Gabinete do Dr. Caligari, o movimento expressionista já perdera actualidade e pertinência (p. 114).

Da filmologia, retenho a sua definição: ela nasce da urgência real de interrogar e limitar o cinema enquanto formidável máquina de transformação e condicionamento social (p. 166). Ciência do filme, a filmologia procura estabelecer e esclarecer as condições de possibilidade do objecto cinematográfico. A filmologia estende-se a um vasto campo de ciências (p. 168). João Mário Grilo dedica atenção especial ao conjunto da estética, psicologia e filosofia gerais e à sociologia. Étienne Souriau é o autor eleito, mas também enumera Jean-Jacques Rinieri, Pierre Francastel e Jean-Louis Schefer.

Volto à fundamentação arqueológica do cinema: o seu dispositivo aponta para um duplo ancoramento: 1) teoria da estrutura espacial da imagem e do modo de imitar a realidade (a crença, segundo André Bazin), que está na raiz das características realistas, 2) espectáculo do movimento que leva o cinema para além desse realismo e que o faz participar da revolução expressionista, do objecto para o olhar sobre o objecto. Depois de Vertov e Eisenstein, Deleuze espreita, com a imagem-movimento.

De salientar que parte substancial da obra deste professor e realizador de cinema foi publicada entre o ano passado e este, para além de As Lições do Cinema: O Homem Imaginado, O Cinema da Não-Ilusão e O Livro das Imagens. Anteriormente, editara A Ordem no Cinema.

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