Textos de Rogério Santos, com reflexões e atualidade sobre indústrias culturais (imprensa, rádio, televisão, internet, cinema, videojogos, música, livros, centros comerciais) e criativas (museus, exposições, teatro, espetáculos). Na blogosfera desde 2002.
domingo, 2 de dezembro de 2007
ESTRELA SOLITÁRIA, O FILME DE WENDERS
A crítica não é muito favorável a Estrela Solitária, filme de Wim Wenders (título original: Don't Come Knocking, 2005), com Sam Shepard, Jessica Lange, Tim Roth, Sarah Polley, Marley Shelton. No Expresso, o crítico dá as estrelas ao filme por causa da fotografia (de Franz Lusting), comparando com o Paris Texas, a obra-prima do realizador alemão.
Eu gostei, mas a minha opinião vale pouco (tanto como a do crítico). O filme conta a história de Howard Spence, actor de filmes de westerns com uma vida agitada envolta em álcool e mulheres (as críticas falam em droga, mas não me apercebi disso na história). Um dia, foge da rodagem do filme em que entrava, em Monument Valley, e apanha um transporte (comboio, automóvel, autocarro) até Nevada, subdividindo-se a história em duas: 1) a vagabundagem de Spence, que o leva a casa da mãe (Eva Marie Saint), e até uma antiga amante Doreen, interpretada por Jessica Lange), onde descobre a existência de um filho de ambos, Earl (Gabriel Mann), 2) a perseguição da companhia de seguros que segurava o filme, através de um seu funcionário, acabando por o encontrar e levá-lo de novo às filmagens. No entretanto, descobre igualmente a existência de uma filha, Sky (Sarah Polley), fruto de outra relação ocasional por altura da realização de um western em Butte (Estado de Montana), prestigiada cidade do Mississipi ocidental, entretanto tornada fantasma após uma depressão económica.
Há semelhanças com Paris Texas (1984), literal e metaforicamente (Kathleen C. Fennessy, em Amazon.com), a começar pela colaboração na escrita da história de Sam Sephard, agora também como actor principal, e ainda na revisitação ao sudoeste dos Estados Unidos. Naquele filme, a história centra-se numa criança que passa da custódia da mãe para o do pai, num percurso ao longo do espaço físico americano. As estradas, longas e desertas, bordejadas por povoações quase abandonadas (um road movie, chamou-lhe Wenders), repetem-se neste filme de 2005. Aqui, é a história de um indivíduo que descobre que é pai após o regresso a um local onde filmara, duas dezenas e meia de anos depois. A relação é violenta com o filho (jovem músico que lembra Chris Isaak) e mais calma com a filha, como se fossem o bem e o mal - ou até, o demónio e o anjo - duas facetas que poderíamos encontrar na personagem do pai. No enquadramento da obra, a música de T-Bone Burnett lembra a de Ry Cooder no filme de 1984. Harry Dean Stanton e Nastassja Kinski, no filme de 1984, cedem o lugar a Sam Sephard e Jessica Lange.
No texto já citado de Kathleen C. Fennessy, ela indica Estrela Solitária como um modelo de western pós-moderno. Mais simpático do que as críticas portuguesas!
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2 comentários:
mt interessante o blogue. n conhecia.
deixo uma dica de um autor novo que merece ser divulgado:
www.tiagonene.pt.vu
Patsy
Também não acho que a «Estrela Solitária» seja o melhor filme de Wenders, mas discordo de si quanto à obra-prima do cineasta. «Asas do Desejo», parece-me o seu melhor filme. ;)
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