Textos de Rogério Santos, com reflexões e atualidade sobre indústrias culturais (imprensa, rádio, televisão, internet, cinema, videojogos, música, livros, centros comerciais) e criativas (museus, exposições, teatro, espetáculos). Na blogosfera desde 2002.
segunda-feira, 17 de dezembro de 2007
LIVRO SOBRE JORNALISMO
O livro (174 páginas) tem introdução, 5 capítulos e conclusão. Da introdução, lê-se que a investigação sobre os processos de produção jornalística (newsmaking) reconhece o poder do jornalismo na projecção social dos assuntos e no seu enquadramento (p. 10). O objectivo é compreender os valores-notícia existentes nas notícias de um jornal de referência (Diário de Notícias) por comparação a um jornal popular (Correio da Manhã) e um jornal africano (Jornal de Angola).
A metodologia é a análise de casos (análise de conteúdo) cobrindo o período de 1981 a 2000 (no jornal angolano analisam-se apenas alguns anos do período). O tema são as notícias sobre VIH-sida.
A introdução ainda inclui cerca de oito páginas dedicadas à teoria da notícia (embora não identificado, a parte inicial é escrita por Nelson Traquina, docente da Universidade Nova de Lisboa e presidente do CIMJ, centro de investigação que tem uma colecção de livros na editorial Horizonte). Na conclusão, que podemos igualmente atribuir ao mesmo investigador, e após recuperação de conceitos como agendamento, enquadramento, "estória" e valor-notícia, é trabalhada a ideia de problemática. O VIH-sida enquanto problemática nem sempre foi notícia (p. 96). Fala-se, então, de um período invisível. Por oposição à problemática, desenvolve-se a noção de acontecimento - o jornalismo é orientado para o acontecimento.
Por outro lado, conclui-se que a proximidade geográfica desempenha um papel fundamental no enquadramento e valor-notícia do acontecimento e que as fontes oficiais dominam o processo de produção noticiosa. Quando se escreve que o jornalismo é orientado para o acontecimento, significa que as notícias raramente partem da iniciativa dos jornalistas, os quais reagem a um evento (quer os agendados quer os de ruptura ou imprevistos).
Ponto forte do livro: a colaboração de duas gerações de investigadores, uma mais teórica e sociológica, a outra com conhecimentos empíricos de tratamento de dados estatísticos.
Leitura: Nelson Traquina, Marisa Torres da Silva e Vanda Calado (2007). A problemática da sida como notícia. Lisboa: Livros Horizonte e CIMJ
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