domingo, 2 de dezembro de 2007

MÚSICA


Lê-se em reportagem de hoje do El Pais (Madrid) "À medida que cai a venda de discos, cresce anualmente o número de espectadores nos concertos". Isto é: já não se compram discos, mas artistas, em que concertos, direitos e os formatos digitais são os novos filões para a indústria. O tema é A música não se vende mas é um grande negócio (textos de Ramón Muñoz e Guillermo López).

O texto começa desta maneira:
  • Bruce Springsteen, concerto em Madrid, esgotadas as entradas em três horas; Héroes de Silencio, último espectáculo, 240.000 espectadores; Nacha Pop, reaparição em Madrid, 15.000 fãs; Joaquín Sabina e Joan Manuel Serrat vão em três actuações consecutivas no Palau Sant Jordi. Nenhuma entrada destes concertos custava menos de 30 euros. E dizem que a música está em crise? Em 2006, venderam-se em Espanha menos discos (CD) que em 1991. [...] Embora o aumento de preços devido à introdução do euro, o valor das vendas de música caíu 34% desde 2000. E, então, de que vivem os músicos?
A resposta é: nem a música está em crise nem os músicos morrem de fome, mas apenas o negócio mudou. Se não de vendem discos, vendem-se artistas. Em Outubro passado, Madonna rompeu a sua ligação com a Warner Music e assinou um contrato com a Live Nation, uma empresa organizadora de concertos. Esta empresa produzirá os discos de Madonna e montará as suas digressões mas também explorará a sua marca, DVD, projectos cinematográficos, páginas da internet e até os clubes de fãs. É o lote completo [imagens: El Pais, 2 de Dezembro; Público 10 de Outubro].



Vantagens, pergunta-se num dos textos? De modo diverso da discográfica tradicional, o novo sistema permite que o artista se desenvolva. Não se aplica o esquema de tirar um single e ver se funciona ou não; se fosse não, acabava a promoção. Agora é diferente: concertos, direitos de autor (através de DVD, CD, gravações em dispositivos como o mp3 ou os telemóveis, mau grado a pirataria). E também a internet, como o exemplo recente dos Radiohead, com o álbum Rainbows. O texto de João Bonifácio (Público, 10 de Outubro último) começava do seguinte modo:

  • Milhares de melómanos do mundo inteiro recebem hoje nos seus computadores o novo disco dos Radioheads, tendo pago por eles a quantia que acharam justa, inclusivamente zero euros. Não há preço fixo, disco em formato CD só para o ano, não há intermediários. Alguns afirmam que é uma revolução, todos dizem que é um brilhante golpe de marketing, quase todos aceitam que o golpe de marketing feriu de morte a indústria musical tal como a conhecemos.
Vendem-se menos discos mas fazem-se mais downloads e vende-se mais merchandising, escreve João Bonifácio. Dantes, as bandas levavam CD para vender no final do concerto, agora levam t-shirts, de produção mais barata. Ao mesmo tempo que aumenta o número de concertos (e os festivais, em locais de férias de Verão ou urbanos durante o Inverno) e o preço dos bilhetes.

Há ainda uma nova tendência, a dos toques de telemóvel. Muñoz e López referenciam os prémios Nokia Amigo: o maior fabricante de telemóveis empresta o seu nome a um prémio musical, o Amigo, uma espécie de Grammy que dá galardões para músicas de toque de telemóvel e descarga legal da internet. E, se na internet se estabeleceu uma cultura gratuita, nos telefones celulares cada toque custa dinheiro. A Federação Internacional da Indústria Fonográfica (IFPI) estima que, segundo dados de 2006, as vendas de música digital estão nos 10º do mercado, mas projecta uma subida até 25% dentro de três anos.

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