sábado, 26 de janeiro de 2008

CANAIS PARA DIVERSOS GOSTOS


O pai descansa ao observar o bilhar transmitido pelo canal da televisão. Uma tela quase toda verde, com a bola a percorrer um conjunto de linhas geométricas. O homem ajusta o taco com uma precisão como se fosse o relógio ou a máquina mais exacta do universo. Há uma longa filosofia por detrás da tacada, a qual pode decidir um jogo. E muita elasticidade.

Já o filho prefere ver o canal do ténis. É mais frenético, mais musculado. Não tem a elegância do bailado, mas aproxima-se, e é um igual esforço suado. O ténis tem vedetas, que aparecem nas capas das revistas. Muitas dessas vedetas vêm da luminosa Europa de leste. Como no bilhar, aprecia-se a elasticidade. E, como naquele, o tempo está sincopado.

No Japão, há canais temáticos que apenas transmitem programas sobre água, flores, peixes, cores. São feitos para recuperar a harmonia intrapessoal. Trata-se, pois, de um consumo privado: o lar como espaço de repouso e de aconchego. Aqui, o espaço ganha sobre o tempo - que não é preciso para nada.

O saudoso Eduardo Prado Coelho escreveu, um dia, sobre o prazer que obtinha de passar uns minutos a ver o canal de moda. Modelos esguios, diria anoréticos, mostram-se pelas passarelas enquanto uma música dance acompanha esses movimentos. O ritmo volta a adquirir força, com igual sentido de harmonia, equilíbrio e elasticidade.

Falta um canal sobre escultura: da grega até à de Brancusi. Nesse canal temático inexistente, o ritmo nada deveria ao tempo mas sim à forma e à harmonia. Seria igualmente um canal íntimo, colorido, doce. A precisar de música. Eis uma proposta séria para a televisão digital terrestre.

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