Textos de Rogério Santos, com reflexões e atualidade sobre indústrias culturais (imprensa, rádio, televisão, internet, cinema, videojogos, música, livros, centros comerciais) e criativas (museus, exposições, teatro, espetáculos). Na blogosfera desde 2002.
sábado, 15 de março de 2008
AINDA AS III JORNADAS INTERNACIONAIS DE JORNALISMO NO PORTO
Ontem, estive na mesa do fim da manhã das III Jornadas de Jornalismo na Universidade Fernando Pessoa, Jornalismo político e democracia representativa. Os meus colegas de mesa foram José Marques de Melo (Universidade Metodista de São Paulo, Brasil), Moisés Lemos Martins (Universidade do Minho), Francisco Karam (Universidade Federal de Santa Catarina, Brasil), Xosé López (Universidade de Santiago de Compostela, Espanha) e José Esteves Rei (Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro), que presidiu à mesa.
Registei pessimismo em alguns dos oradores, sempre que os seus discursos associavam democracia, cidadania e jornalismo. Se para Marques de Melo, a neutralidade do jornalista está ameaçada pelos media de hoje, com crescente anomia da democracia representativa, para Francisco Karam há crise de representação do jornalismo e défice social perante a eficácia da mensagem e uma perda do debate, com avanço do espectáculo nas notícias.
Já Moisés Lemos Martins, no mais belo mas igualmente mais triste depoimento, pôs em relevo o desaparecimento da confiança da comunidade histórica, a crescente abstenção eleitoral e a ausência de alternativas ao rotativismo partidário. Isto ao lado de consensos forçados (no que lembrou Todd Gitlin em discurso anterior) e da estetização do espaço público, com euforização e excitação da sociedade do espectáculo. Martins falou mesmo de comunidade dolente e de mal-estar social da época. Para isso, convocou autores como Guy Debord, Jean Baudrillard e Walter Benjamin.
Assim, à memória histórica e sociológica do jornalismo político nos jornais em Marques Melo e à perda de representatividade, autoridade e reconhecimento dos jornalistas em Francisco Karam, Moisés Lemos Martins mostrou a pobreza dos media, distraidos com a encenação da democracia e a fragmentação da experiência, em que uns poucos "opinionistas" falam de quase tudo - aqueles a que eu chamo de tutólogos.
O outro orador, o galego Xosé López, apresentou uma comunicação mais cartesiana, sustentando as vantagens dos novos media e revelando um optimismo moderado. Das cinco conclusões que entendeu como importantes na actualidade, distinguiu a existência dos meios tecnológicos à parte do sistema político e destacou o talento da informação com distanciamento por parte do jornalista, a necessidade de uma forte especialização, o aproveitamento das tecnologias para avançar com mudanças nas estratégias de actuação e a atenção permanente do jornalista aos interesses e opções dos cidadãos.
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