Textos de Rogério Santos, com reflexões e atualidade sobre indústrias culturais (imprensa, rádio, televisão, internet, cinema, videojogos, música, livros, centros comerciais) e criativas (museus, exposições, teatro, espetáculos). Na blogosfera desde 2002.
quarta-feira, 23 de abril de 2008
CELEBRIDADES
Para Jessica Evans (2005), o interesse nas celebridades enquanto tema dos media leva a perguntar: 1) se uma pessoa se torna celebridade devido a um talento especial, 2) se sempre houve celebridades, 3) em que medida uma celebridade é um fenómeno mediático, 4) porque promovem os media as celebridades, 5) quanto custa produzir celebridades, 6) que valores e atitudes sociais se associam às celebridades, 7) que razões levam as celebridades a atrair audiências.
No mito do estrelato e da celebridade estão em causa o carisma e a fama, continua Evans. É que os indivíduos não se tornam celebridades como resultado de algo inato ou de qualidades magnéticas, mas a celebridade é um recurso criado e desenvolvido num conjunto de media relacionados (imprensa, cinema e programas de televisão), aos quais as audiências respondem de modo diversificado. Além disso, as celebridades são, por definição, poucas mas conhecidas por muitos. O que significa que, para quem quer atingir a fama ou tornar-se uma celebridade, há que fazer uma construção e transmissão activa de uma imagem ou pessoa que a represente.
Há três principais razões para o tema da celebridade, de acordo com Jessica Evans. A primeira é que celebridade e media são constitutivas mutuamente. O estudo das celebridades leva directamente à análise dos media e, em particular, indica que os media investem recursos elevados na promoção e cobertura da celebridade. Uma celebridade torna-se uma força poderosa nos media ligada à audiência, pois as celebridades adquirem estatuto devido aos espectadores, ouvintes e leitores.
A segunda razão é que as imagens e representações mediáticas dos famosos, estrelas e celebridades são veículos para a criação de significados sociais. Uma celebridade transporta consigo, directa ou indirectamente, valores sociais particulares, tais como o significado do trabalho e acompanhamento e definições de identidade sexual e de género.
Em terceiro lugar, desde os anos 1990, a celebridade tornou-se objecto de intenso interesse nos media. É o foco nos acontecimentos e na promoção, mas igualmente nas notícias e na cobertura de assuntos variados. Nos anos mais recentes, a análise crítica da celebridade tem-se focado nos meios de comunicação e como condicionam a condução da vida pública. O historiador cultural Daniel Boorstin (1961) usou a expressão cultura da celebridade para falar das imagens dentro das mensagens. A revolução gráfica do século XX – imprensa a vapor, reprodução fotográfica de meios tons, filme e televisão, levando à reprodução alargada de imagens – trouxe o crescimento daquilo a que Boorstin chamou pseudo-acontecimento, expressão que quis significar que um evento se faz para ser disseminado pelos media, mas também aquele que é anunciado antes de acontecer. A celebridade, na perspectiva de Boorstin, é a figura mais precisa do pseudo-evento mediático.
Leitura: Jessica Evans (2005). "Introduction". In Jessica Evans e David Hesmondhalgh (ed.) Understanding media: inside celebrity. Milton Keynes: Open University Press
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