domingo, 13 de abril de 2008

O PODER DOS MEDIA (1)


Na capa do Observer de hoje, a fotografia principal cabe a Robert Murat, inicialmente considerado suspeito formal do desaparecimento de Madeleine McCann há um ano atrás na Praia da Luz, Algarve.

Inglês de nascimento (um dos pais é português) e vivendo perto do local onde a menina desapareceu, Murat ofereceu-se para tradutor mas, rapidamente, acabou por ser acusado ou indiciado como tal (arguido). Os media amplificaram as razões da decisão judicial, nomeadamente os ingleses.

Agora, Murat leva a tribunal esses jornais e televisão - Daily Express, Sunday Express, Daily Star, Evening Standard, Metro, Daily Mirror, Sunday Mirror, News of World, Sun, Scotsman e Sky. São media tablóides, os jornais e as televisões sérias e de qualidade não estão lá. Murat quer que os media ingleses formulem pedidos de desculpa e exige uma indemnização de mais de dois milhões de libras, no que é o maior pedido de indemnizações na história dos media ingleses. Os prejuízos causados a este cidadão luso-britânico residem no facto de sobre ele não penderem provas de evidência adequadas (na altura, falou-se mesmo em pornografia infantil, com elementos encontrados no seu computador pessoal).


A concorrência entre os jornais, a que se junta o peso crescente dos media mais novos como a internet, levam os jornais a "fabricarem" teses menos consistentes, a partir de pistas ténues. O mesmo aconteceu com os McCann, que de vítimas passaram a igualmente suspeitos de fazerem desaparecer a criança. Os media portugueses também aceitaram a visão da suspeita, ansiosos por resultados e sempre num registo de querer antecipar as notícias face à concorrência.

Tabloidização, concorrência, mais notícias leves (soft news, na designação inglesa) que notícias sobre factos são assuntos importantes quando se fala de jornalismo hoje. O sociólogo e historiador dos media Michael Schudson, que estará entre nós na semana que agora começa, terá certamente oportunidade de falar em tais temas.