segunda-feira, 5 de maio de 2008

DESEMPREGO E INDÚSTRIAS CRIATIVAS


Na edição de sábado passado do jornal Público, José Pacheco Pereira produziu um importante artigo sobre o desemprego e as fábricas que fecham.

As perguntas que se colocam são: que novos empregos se geram? Que conversões tecnológicas são necessárias? Que auxílios sociais são precisos? Que áreas geográficas não estão afectadas?

Duas histórias que recentemente conheci servem-me de testemunho - até pelo significado oposto, o da recuperação após a perda -, casos que, contudo, não creio serem vulgares. Cito as situações e os nomes porque os próprios publicitam as suas histórias.

Um, José Teixeira, trabalhou numa fábrica de têxtil do vale do Ave. Desempregado, acabou por se tornar empresário no mesmo sector, mas faliu, o que o terá levado a emigrar e a trabalhar na Argélia. Regressado a Portugal, monta uma actividade ligada a eventos, em Vilarinho, Santo Tirso (ver sítio Ruinas do Cerrado). Não aprecio o conceito, mas sei que está espalhado pelo país, com amplos espaços para comensais, neste caso para um máximo de 250 pessoas. José Teixeira organiza ainda visitas a locais da região, desde fábricas do têxtil já fechadas a passeios de teleférico na Penha (Guimarães).

O outro, João Ferreira (email: joao.g.ferreira@sapo.pt
), a trabalhar há mais de 20 anos numa fábrica de cerâmica em Barcelos, abandonou a fábrica muito pouco tempo antes dela fechar. Muito próximo do patrão, não conseguia aguentar a pressão. Há três anos mudou de profissão, tornando-se artesão cerâmico. Na última mostra da FIL esgotou rapidamente os seus bonecos, coisa que espera acontecer de novo nas Festas do Senhor de Matosinhos (Matosinhos), a funcionar na primeira quinzena deste mês.

João Ferreira segue o estilo dos barristas de Barcelos nas temáticas: Cristos crucificados, última ceia de Cristo, personagens do imaginário popular. Mas também estabelece uma ruptura, naquilo que acho específico neste artesão ainda jovem - as figuras de profissionais urbanos, onde o lado artesanal do ofício ainda é muito patente, como o barbeiro ou o alfaiate. Neste último, observam-se formas finas, rosto anguloso e de olhar atento, cabelo despenteado para a frente, mãos que apoiam o tecido a coser na máquina Singer. João Ferreira é, sem dúvida, um bom representante de barristas de outras gerações como Rosa Ramalho e Mistério.

2 comentários:

Anónimo disse...

Bom dia
Bonito post!
mgf

Anónimo disse...

Gostei muito de ler sobre o artesão de Barcelos. O conceito da cerâmica popular de Barcelos é uma coisa realmente única e que espero que se preserve por muitos e bons anos. Não fosse o Presépio Popular Português um dos melhores exemplos disso.