Textos de Rogério Santos, com reflexões e atualidade sobre indústrias culturais (imprensa, rádio, televisão, internet, cinema, videojogos, música, livros, centros comerciais) e criativas (museus, exposições, teatro, espetáculos). Na blogosfera desde 2002.
terça-feira, 6 de maio de 2008
NOTAS PARA UMA AULA DE TEORIA DA COMUNICAÇÃO (9)
James W. Carey (1934-2006) nasceu numa família tradicional católica irlandesa oriunda do norte do Estado de Providence, que entretanto se mudara para Massachusetts. A sua família não era propriamente pobre, mas ele lembrava-se que o seu pai ganhava 80 dólares semanais num estaleiro naval antes da II Guerra Mundial, desempregando-se a seguir ao final desta e conseguindo um emprego a ganhar 25 dólares por semana (Carey tinha cinco irmãos). O frigorífico chegou a sua casa por volta de 1946/1947. A sua família nunca teve automóvel ou carta de condução. Somente a geração de Carey é que teve características de classe média (entrevista a Lawrence Grossberg, no livro editado por Jeremy Parker e Craig Robertson, Thinking with James Carey, 2006).
Carey enquanto criança nunca jogou à bola com os amigos, devido a uma rara doença de coração. Preenchia os seus dias lendo e conversando com reformados que viviam na vizinhança. Aos 14 anos, foi-lhe permitido frequentar a escola, onde estudou história, inglês e aprendeu a escrever à máquina, e, aos 16, arranjou um emprego numa agência publicitária local. Na Universidade de Rhode Island, licenciou-se em marketing e publicidade – onde aprendeu igualmente estatística, filosofia e economia –, e na Universidade de Illinois o seu doutoramento sobre a economia da comunicação (1962), universidade onde ensinaria.
Carey foi influenciado por McLuhan, que conhecera na universidade em 1960, quando este ainda não era conhecido mas escrevera Understanding media, livro que Carey achou estranho, na altura. McLuhan falara do seu interesse por Innis, tendo conversado sobre isso, no que seria uma outra influência de Carey, igualmente inspirado por John Dewey e outros sociólogos da Universidade de Chicago.
Um texto que Carey editou sobre Innis e McLuhan, no final da década de 1960, levou Richard Hoggart – dos cultural studies ingleses – a escrever-lhe, começando uma correspondência. Às aulas que leccionava, Carey chamava estudos culturais, tendo enviado a Hoggart o projecto do seu curso, onde ensinava Durkheim, Weber, Goffman e a escola de Chicago. Hoggart enviou-lhe uma lista de autores ensinados em Birmingham, onde havia muitas semelhanças.
A sua ideia mais influente é a da teoria ritual da comunicação, em que a comunicação se define como a passagem de ideias de um ponto para outro, ultrapassando a tradicional teoria da transmissão. A perspectiva de transmissão na comunicação é a mais comum nas análises: enviar, transmitir, dar informação aos outros. É formada por uma metáfora de geografia ou transporte. No século XIX, o movimento de bens e pessoas e o movimento da informação eram vistos como essencialmente processos idênticos e ambos descritos pela palavra comunicação. O centro desta ideia de comunicação é a transmissão de sinais ou mensagens à distância com o objectivo de controlo. É a perspectiva de comunicação que deriva de um dos mais antigos sonhos humanos: o desejo de aumentar a velocidade e efeito das mensagens à medida que viajam no tempo (Carey, 1989, Communication as culture). As mensagens podem ser produzidas e controladas centralmente, pelo monopólio da escrita ou pela produção rápida da imprensa, que precisam de ser distribuidos, para alcançar o efeito desejado, de transporte rápido.
A perspectiva de ritual na comunicação é mais antiga e liga-se a termos como partilha, participação, associação, comunidade e posse de fé comum. A definição explora a identidade antiga e as raízes comuns de termos como comunidade, comunhão, comunalidade, comunicação. A perspectiva ritual da comunicação dirige-se não à extensão das mensagens no espaço mas à permanência da sociedade no tempo, não é o acto de repartir informação mas a representação de crenças partilhadas.
Para James Hay (no livro editado por Jeremy Parker e Craig Robertson, Thinking with James Carey), as tensões entre modelo ritual de comunicação e de transmissão ligam-se às relações entre temporalidade e espacialidade, história e geografia, ritual e transmissão. O modelo ritual de comunicação seria a resposta de Carey ao domínio e autoridade do positivismo na investigação americana de comunicação.
Carey iniciou um programa de doutoramento em jornalismo na Graduate School of Journalism na Universidade de Columbia (1998) e escreveu Television and the Press (1988), Communication as Culture (1989) e James Carey: A Critical Reader (1997).
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