Ontem, na Universidad Complutense (Madrid), Paulo Faustino defendeu a sua tese de doutoramento intitulada Economia, gestão e concentração dos media: tendências e dinâmicas na imprensa num contexto multimedia, tendo sido aprovado com a nota máxima.
O novo doutor apresentou um trabalho orientado para a imprensa e dividido em quatro partes: estudo e estatísticas da imprensa; economia, gestão e marketing na imprensa; concentração nos media; análise empírica e tendências na imprensa. Destaco a segunda parte (gestão, tendências do negócio dos media impressos, marketing, rendimento económico e financeiro, caracterização geral do mercado) e a terceira parte (estudo da compra da Lusomundo Media pela Controlinveste Media).
Para Faustino, a economia dos media considera nomeadamente a análise dos colaboradores, empresa, indústria, consumidores e reguladores. Segundo o autor, muita da literatura tem-se concentrado em cinco áreas: conceitos micro-económicos, modelos de organização industrial, direcção e actualização no mercado, estudos sobre política de comunicação, economia e políticas dos meios. A investigação incide em publicidade, circulação, concorrência, propriedade e conteúdos editoriais. Como grandes conclusões, a tese agora presente aponta mudanças na imprensa caracterizadas na tendência para vender a informação em mais do que um suporte e o esforço crescente para reduzir a dependência da publicidade. Tal quer dizer, segundo Paulo Faustino, que os media de imprensa são vistos como: 1) empresas de venda de informação, e não de papel, 2) entidades de serviços de comunicação e formação, 3) dinamizadoras de suportes e canais de distribuição, 4) produtoras de cultura e de ócio, com a venda de livros, CD, DVD, eventos.
Da arguência da tese destaco os seguintes elementos: 1) caracterização de mercados dominantes e relevo dos anúncios classificados (Francisco Rui Cádima, Universidade Nova de Lisboa, o primeiro à esquerda na imagem), 2) diferenciação do conceito concentração em termos de âmbito geográfico (regional, nacional, europeu) e de produto (fragmentação da quota de mercado de publicidade) (Alfonso Sánchez-Tabernero, Universidade de Navarra, o segundo à esquerda na imagem), 3) relação entre indústria de papel, modelo de gestão e problema do local (Jesus Timóteo, Universidad Complutense, terceiro a contar da esquerda; à direita da imagem, está Paulo Faustino; o segundo a contar da direita é Fernando Peinado, da Universidad Complutense).
Por me parecer interessante, desenvolvo aqui as ideias de Jesus Timóteo, o presidente do júri da tese. Assim, ele realça o facto de as empresas dos media já não serem de informação e cultura mas de comunicação e entretenimento. Por seu lado, tem-se esquecido, no modelo de gestão, de poderosos operadores entrados na indústria dos media, caso das telecomunicações e de conteúdos como a Microsoft e o YouTube, o que torna o mercado um palco exercido por três tipos de players: 1) velha indústria dos media, 2) operadores tecnológicos, e 3) operadores de conteúdos. A terceira característica, já observada por Sanchéz-Tabernero, é o modo como se olham as empresas: locais ou grandes grupos? Isso condiciona a análise da concentração. Por exemplo, as pequenas empresas formam um mosaico muito diversificado e rico. Mas não serão as grandes empresas que ditam as normas? E, ainda, um grande grupo em Portugal (ou em Espanha), se comparado com os grandes grupos europeus, americanos, japoneses ou chineses, continua a ser um grande grupo? Local é a Estremadura, a Espanha ou a Europa?
Na minha leitura do trabalho, enfatizo dez pontos: 1) compreensão do tecido empresarial dos media impressos, já visível no seu livro de 2004 (ver minha mensagem de 25 de Setembro de 2004), 2) relacionamento da imprensa com a publicidade, as mudanças tecnológicas e profissionais, 3) relevo dos jornais gratuitos, produto de sucesso em Portugal, 4) gestão empresarial, a questão central da tese, a meu ver, em que os media têm sucesso se funcionarem como empresas organizadas, 5) as oportunidades e as ameaças nos media como indicadores de análise, 6) internet (e digitalização) e a nova literacia, 7) imprensa nacional e imprensa regional/local, um começo da investigação científica nesta área em Portugal, 8) produção/distribuição de conteúdos por diversos canais e media, 9) aplicação dos conceitos de concentração/consolidação e pluralismo político (discussão que vai começar a ser feita em Portugal), 10) reflexão sobre a relação produto jornalístico versus produtos de marketing alternativo.
Sem comentários:
Enviar um comentário