Textos de Rogério Santos, com reflexões e atualidade sobre indústrias culturais (imprensa, rádio, televisão, internet, cinema, videojogos, música, livros, centros comerciais) e criativas (museus, exposições, teatro, espetáculos). Na blogosfera desde 2002.
domingo, 27 de julho de 2008
BATMAN
O Joker (Heath Ledger) é um bandido atípico: entra na Mafia mas actua isoladamente, não tem qualquer código de conduta, eliminando impiedosamente mesmo os que colaboram com ele. Nem tem objectivos semelhantes aos dos outros elementos da Mafia - o dinheiro não é tudo para ele, podendo atear fogo a milhares de notas sem se comover. É um louco, toma atitudes incompreensíveis para os outros, mas não é ingénuo nem tonto.
O homem morcego (Batman) (Christian Bale) é um grande empresário de tecnologias durante o dia e justiceiro à noite. Usa aparelhos sofisticados na luta contra o crime, levando-me a considerar estarmos perante um filme de objectos. Ao invés, o Joker usa apenas uma faca e com a perícia e resultados tão bons como as máquinas daquele. Mas, e sem que o filme nos mostre muito, o Joker é também perito em explosões de dinamite através de controlos remotos muito desenvolvidos. O filme é, assim, o confronto entre tecnologia pré-moderna e tecnologia pós-moderna, em que se juntam espectacularidade e eficácia.
O procurador (Aaron Eckhart), a namorada deste (que já foi de Batman) (Maggie Gyllenhaal) e o chefe da polícia (Gary Oldman) combatem o Joker mas não o conhecem bem. Por isso, precisam do homem morcego em dado momento. Este não consegue porém evitar que os dois primeiros morram às mãos do Joker.
Se o Joker é um indivíduo estranho e solitário, o Batman não tem muita gente a apoiá-lo directamente. Actuam ambos de modo clandestino - ou pouco deles se sabe. De Batman, conhecemos a paixão que ainda tem da antiga namorada e os dois colaboradores tecnólogos (Michael Caine e Morgan Freeman), também filósofos da condição humana. No final do filme, um deles demite-se do seu cargo, deixando mais isolado o justiceiro.
Como disse acima, o filme (de Jonathan Nolan) está rodeado de objectos tecnológicos, que existem para cumprir as determinações dos homens. E, segundo aspecto a salientar, o implausível do uso das máquinas é contrabalançado com uma memória cultural que nos vem dos desenhos animados: o Batman e o Joker não morrem às mãos do outro, apesar das oportunidades de um eliminar o outro. É como se fosse um jogo contínuo em que justiça e crime fossem duas faces da mesma moeda, como o procurador gostava de jogar, em que perder e ganhar fazem parte constante desse jogo.
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