quarta-feira, 9 de julho de 2008

SOBRE O TEATRO


O Público tem proporcionado vasta leitura sobre as polémicas do teatro (e da Cinemateca).

Primeiro foi o texto de João Bénard da Costa, director da Cinemateca, artigo fino sobre a antiga ministra da Cultura, a propósito de um abaixo assinado a correr no Porto e a pedir a existência de uma cinemateca naquela cidade. Foi um texto a desancar na ex-ministra, logo seguido pelo do crítico de cinema António Roma Torres, a dizer que assinara o documento mas se demarcava de Isabel Pires de Lima. O texto mais assombroso viria pela pena de Luís Miguel Cintra, director do teatro Cornucópia.

A polémica estava instalada. Em dois dias seguidos, surgem artigos assinados por Isabel Pires de Lima e por Mário Vieira de Carvalho, secretário de Estado à altura daquela. Se Pires de Lima se apresenta como uma espécie de Maria Papoila, uma provinciana que chega à cidade e se encanta com os progressos da mesma, num texto de uma grande ironia, Vieira de Carvalho tem uma atitude muito mais intelectual e usa as palavras de modo mais assertivo.

Não gostei do mandato de Isabel Pires de Lima (e disse-o aqui). Mas Luís Miguel Cintra não sai bem desta pintura: se o Estado subsidia inclusive o aluguer do teatro Cornucópia e Cintra não gosta de ter o teatro cheio porque isso quer dizer teatro comercial, sinto que o dinheiro dos contribuintes não está a ser bem gerido (embora eu goste de ver as peças levadas a cena no teatro de Cintra).

Estava esta polémica a acabar e surge logo outra, com Diogo Infante, que se despede do Municipal Maria Matos e é indicado como director do Nacional D. Maria II. Uma promoção a merecer no "sobe e desce" do Público uma seta para cima. Mas, nesta situação, há coisas que não compreendo. Se o municipal não tem dinheiro e o actor/director salta para o nacional, significa que este tem dinheiro? É porque o município tem as contas sem controlo e precisa de poupar? E o país também não está com problemas de ordem financeira? E por que é que as autoridades (como o ministério da Cultura) não falam sobre se Infante vai ou não vai para o teatro nacional? Sabe-se primeiro pelos jornais? O poder político deixa-se ultrapassar e permite alimentar boatos?

Conclusão: as instituições perdem seriedade com estas demoras e inexactidões. Por mim, punha Diogo Infante com uma seta para baixo, e Luís Miguel Cintra também. Já a antiga ministra ficava com uma seta horizontal, pois não adiantou nem arrefeceu. E de Bénard da Costa espera-se que ele regresse de férias para voltarmos a ler as páginas encantadas que ele sabe preencher (mas sem polémicas, que perde peso).

Sem comentários: