Textos de Rogério Santos, com reflexões e atualidade sobre indústrias culturais (imprensa, rádio, televisão, internet, cinema, videojogos, música, livros, centros comerciais) e criativas (museus, exposições, teatro, espetáculos). Na blogosfera desde 2002.
terça-feira, 30 de setembro de 2008
INDÚSTRIA CULTURAL EM HEINZ STEINERT
O conceito de indústria cultural em Adorno e Horkheimer aparece na forma de singular, referindo-se à produção de coisas como o princípio de uma forma específica de produção cultural (Steinert, 2003: 9). A cultura subordina-se à forma de mercadoria. Actualmente, usa-se também o plural indústrias culturais, que distingue produtos diferentes e géneros de produção (Steinert, 2003: 170), e inclui as indústrias da edição, musical, cinematográfica e da televisão e, mais raramente, as indústrias da ópera, dos museus e galerias e da arquitectura e da construção. Em simultâneo, estabeleceu-se um novo campo académico de “gestão cultural” nas escolas de negócios e nas universidades.
O que era originalmente uma crítica filosófica tornou-se uma descrição empírica de como se produzem os bens culturais, continua Steinert (2003: 171). Mas os bens ou coisas culturais não são menos bens que os da indústria pesada, pois a modernização da produção de bens não reduz o carácter de coisa do produto.
A conclusão é que, nos media e entretenimento, a mudança para indústrias culturais é muitas vezes entendida como um avanço decisivo sobre a simplificação de Adorno e Horkheimer. O argumento é que a cultura agora está muito diversificada, oferecendo sempre algo diferente para pessoas com gosto particular.
Steinert escreve: a nossa compreensão da cultura está pluralizada para incluir ritmos e harmonias mecânicas (e electrónicas) da música popular, telenovelas e talk-shows, ao lado de peças refinadas e distintas da herança aristocrática europeia. Por um lado, não há lugar a restrições à entrada nas galerias de arte e nos concertos, supondo-se que tudo seja bom, claro e alegre. Por outro lado, os intelectuais adquirem o estatuto de especialistas altamente remunerados, abandonando a antiga função da reflexividade. Steinert procura restabelecer o primeiro significado de indústria cultural como cultura transformada em coisa ou bem, e distinto dos media (2003: 10).
O lamento de Steinert aproxima-se do dos autores que estuda, dentro da linha da teoria crítica de influência marxista, e afasta-se de outros autores que eu cunho de liberais-pluralistas, como Bernard Miège, Enrique Bustamante e David Hesmondhalgh, que trabalham o plural indústrias culturais, e Justin O'Connor e Andy C. Pratt, que trabalham o conceito de indústrias criativas. Alguns destes autores já tiveram referências aqui no blogue.
Leitura: Heinz Steinert (2003). Culture Industry. Cambridge: Polity. Nascido em 1942, foi, até ao último ano lectivo, professor de Sociologia no J.W.Goethe Universität (Frankfurt). Escreveu sobre Adorno (em Viena), jazz e criminologia, entre outros temas. Foi igualmente docente em Viena (Institute for the Sociology of Law and Criminology), cidade onde reparte residência com Frankfurt. Steinert esteve em Setembro de 2001 em Nova Iorque, onde iniciou um projecto de investigação no departamento de Sociologia da New York University sobre o 11 de Setembro. Excepto a organização do volume Welfare Policy from Below, não conheço outra obra de Steinert em inglês ou francês, o que dificulta o seu conhecimento fora da língua alemã. Esperam-se, pois, traduções (não ouso pedir para português).
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
Sem comentários:
Enviar um comentário